Santa sogra
Mulher simples, de rosto delicado, pele suave, carrega com ela ainda os hábitos trazidos lá do extremo norte de Portugal, de uma aldeiazinha chamada Pitões das Junias.
Mulher extremamente religiosa, daquelas que acorda mais cedo pra ligar o radio e ouvir o padre Marcelo, aliás num perde uma missa e tem todos os CDs, DVDs, etc. do dito.
Ora pra chover, ora para parar de chover. Orava pra filha casar, ora pro genro ir embora, enfim ora até em sonhos quando sonha com o Papa.
Meu sogro, homem sério, de personalidade forte, de poucas palavras, semblante doce, mas como um nordestino brasileiro criado na rusticidade do sertão, um homem bravo.
Casamento da filha, vamos todos fazer roupas novas. Como ficaram ricos aqui no Brasil, selecionamos um costureiro de renome.
Lá fomos nós, os quatro. Escolhe aqui, escolhe acolá, cada um com seu modelo, seu padrão, seus tecidos e o sogro,de cara amarrada,pechinchando.
Minha sogra escolheu um vestido lindo.
O costureiro gentil perguntou-lhe:
- Até onde a senhora quer o decote?
Olhares se cruzaram, uns segundos de indecisão, o sogro virou o rosto, disfarçou.
Ela trocou olhares com a noiva, e exigiu.
- Quero até onde se faz o filho.
Silêncio sepulcral. Ninguém ousou dizer uma palavra. O costureiro, sorriso maroto, também se calou.
Dias depois, fomos experimentar as tais e tão esperadas roupas.
O estacionamento estava lotado, desceram os três e, então, o segurança sugeriu que eu fosse até uns 50 metros adiante e colocasse em outro estacionamento da loja. Obedeci.
To voltando e vejo na porta da loja a maior muvuca.
Minha noiva chorando, a sogra em prantos convulsivos, o costureiro gritando por socorro, meu sogro, com um pé no pescoço dele, um braço enforcando o segurança e umas quatro ou cinco costureiras puxando aqui, rasgando ali, separando a desgraceira toda.
Com minha presença, os ânimos se amainaram, separei meu sogro dos dois que fugiram como doidos, acho que de medo mesmo, dei uma água benta pra sogra, um beijo na noiva, reuni todos e também quis saber o que houve.
Minha doce e santa sogra, esclareceu:
- Eu pedi o decote até onde se faz o filho, e olha onde esse desavergonhado deixou o decote?
Silêncio novamente. Voltaram o costureiro, o sogro, o segurança e todos atentos, caímos numa deliciosa e inesquecível gargalhada.
A religiosa sogra, então mostrou, onde era o lugar emque ela fazia o filho:
Em nome do pai, DO FILHO, do espírito santo, amém.
Doe sangue - Estimule doação de orgãos
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