A SIMPLICIDADE DA MINHA VIDA

Os tempos de hoje não nos permitem mais viver a simplicidade que vivíamos em tempos passados. E não falo isso por simples saudosismo como, a princípio, pode parecer. Falo porque sinto total desconforto de presenciar e, algumas vezes, contracenar com situações que reputo como sem sentido e desprovidas de bom senso.

Roubaram escandalosamente toda aquela simplicidade que a vida sempre nos ofereceu e com a qual tínhamos um relacionamento amável e super amistoso.

A simplicidade a que me refiro reside no respeito, na educação, na vontade de aprender as coisas boas, na cultura, na boa música, no comer sem medo de ser feliz, no dirigir sem raiva, no amar acima de tudo. E, claro, no relacionamento entre as pessoas, muito diferente do que se vê hoje em dia.

Quando ocorria algum problema com a linha telefônica, por exemplo, bastava simplesmente dirigir-se à “loja”, relatar o ocorrido e aguardar, sempre na certeza de que a reclamação seria atendida em pouco tempo e o problema devidamente solucionado. E assim para vários outros problemas que surgissem no nosso dia-a-dia. Hoje, se tivermos algum problema similar estaremos fadados a passar por situações constrangedoras e irritantes, principalmente pelo fato de não se ter como chegar pessoalmente a essas prestadoras de serviços. E tome ligações telefônicas para as centrais de atendimento, “digita” um número aqui e outro ali, coloca a senha, espera um pouco ou muito tempo, volta a “digitar” até, por muitas vezes, sermos vencidos pelo cansaço. Em vários casos, a desistência e a sensação de derrota e impotência, que vem a ser o desejado por essas empresas.

Hoje existem as tais “Engenharias de Tráfego” que mais cometem barbaridades e estrelismos do que solucionam efetivamente os problemas do trânsito. Sinaleiros em excesso e totalmente fora de sincronia, placas orientativas em pouca quantidade e que não orientam nada, indústria de multas instalada acintosamente e essas figuras se considerando o máximo em trânsito. E eles não admitem que um “leigo” dê sugestões, pois somente eles sabem das coisas. Senhores todo poderosos que se acham no direito de não responder e não dar a menor satisfação a quem os procura, seja por carta, pelos jornais, pela Internet ou até pessoalmente.

Celulares nas mãos de crianças que ainda nem chegaram aos 10 anos, cirurgias plásticas em molecotas que há pouco largaram as fraldas (em nome da beleza... sic), ostentações sem fim, tudo para estar na “onda”.

Queria muito ter de volta a minha vida simples onde o viver era apenas viver. Mas não dá e como faço parte dessa roda-viva da vida, muitas vezes me vejo engajado nessas situações que aqui critico, mas que não tenho como escapar.

Já escrevi um texto chamado SAUDOSISMO que fala sobre as coisas boas do passado, pois, mesmo ainda não me considerando “passado” é impossível não relembrar de tudo aquilo que foi bom. Mas que não se estabeleça uma confusão entre saudosismo e conservadorismo, pois são sentimentos e sensações muito diferentes. Vejo a saudade como algo gostoso, sublime até, seja ela entendida e vivida de acordo com a visão de cada um. A saudade é apenas um recordar e, como já dizia aquela antiga marchinha de carnaval, “recordar é viver”.

Já o conservadorismo é uma ameaça ao próprio futuro. O conservador é aquele que não admite mudanças e tentativas, muitas vezes em nome da própria incapacidade e do fracasso iminente. Temos que fugir dessa gente.

Veja você, comecei a falar em simplicidade e cá estou falando em saudade. O que fazer? Que culpa tenho eu e meus pares de termos vivido, talvez a melhor época que esse mundo já teve?

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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 07/03/2008
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