NINON E O BÊBADO
NINON E O BÊBADO
Moro em uma rua tranquila. Relativamente tranquila.
A minha casa tem espaço suficiente e eu sempre achei necessário, por medida de segurança e porque gosto, ter um cachorro, para vigiar a casa e para alegrar o ambiente.
O primeiro, uma femea, Colie, cor de caramelo, chocolate e branco, era meiga, dócil para os amigos e brava para os estranhos, Raramente latia. Quando o fazia, algo de estranho estava acontecendo.
Uma tarde de domingo, estava nos fundos, na área de serviço, quando ouvi os latidos, na frente, no portão de entrada. Como não parava, minha mulher olhou pela janela da sala e me disse:
"É um bêbado que está provocando a Ninon. Ele sempre faz isso."
Resolvi descer pela entrada lateral. Fiz isso bem devagar, para ouvir a briga.
Ninon latia, os pelos eriçados, pernas de traz abertas, posição de ataque.
O bêbado no meio da rua, afastado das grades, mão na cintura, cambaleante e xingando a cachorra, com um vasto vocabulário de palavrões:
"Filha da puta, vagabunda, cachorra de merda...."
Até que me viu, quando surgi no jardim. Parou por um instante e continuou.
Falei:
"Opa, opa. Vamos parar com isso, tem gente morando aqui. Olha o respeito. Pare de falar esses palavrões".
E ele:
"Vou quebrar a cara dessa vagabunda. Você ver".
Eu:
"Ah! É briga? Então espere um pouco. Vou soltá-la para vocês brigarem, aí na rua".
Abri o portão. Ninon não saía sem que eu mandasse.
Foi o que bastou. O cara rodopiou nos calcanhares, correu, caiu. Levantou, correu, caiu novamente. Aí conseguiu levantar e sumiu.
Ninon olhou para mim, deu uma sacudidela na pelagem e subiu toda pomposa para dar a sua cochiladinha da tarde.
José Romeu