Noite de outubro
Noite chuvosa... chuva fina, intermitente; músicas ao longe (não muito longe) convidam a dançar, a uma conversa a dois... Bolero es Magia, sim, muita magia. À lembrança vêm momentos já vividos, vêm também momentos apenas imaginados, desejados. Doces momentos, aqueles que jamais vivi... Doces recordações de beijos nunca roubados (ou dados), de palavras de amor ainda não pronunciadas, ainda não ouvidas... lembranças... A chuva fina parou. A música - aquele fundo musical tão gostoso - continua a me deliciar os ouvidos: “Besame Mucho”, “Caminito”, “Noche de Ronda”, “Perfídia”... E eu continuo com minhas recordações do dejà vu, dejà entendu, gostosas... O tempo vai passando, as palavras ficando como um eco em caixa de ressonância, o mundo vira, e eu aqui, sentado, com meu “Aurélio” ao colo, meu inseparável, a me servir de apoio (físico, léxico e lógico), a me servir de muleta para essas horas tão deliciosas e, ao mesmo tempo, tão penosas. E minhas recordações voltam. Voltam porque eu as chamo insistentemente, procuro ininterruptamente, abro todas as portas da minha mente, para que entrem, se aninhem, procriem e me alimentem mais ainda. E o uísque a me ajudar, a me dar forças para que eu grite bem alto, mais alto, lá no fundo da minha mente, aqueles nomes, aquelas cenas que não saem de mim, aqueles momentos inesquecíveis. Ouço “Sentimental”, e me vem à lembrança “O meu mundo caiu”. Não, não é esquizofrenia, embora um louco nunca se julgue tal qual o é. E, como um louco que sou, repito: não é esquizofrenia. É que o momento está mais para fossa do que para céu; a minha imaginação me faz viver, mas vez ou outra eu tenho uma recaída e tudo se embaralha. “Já no estás mas a mi lado, corazón”. Essas músicas me enlouquecem! “...onde eu um dia deixei presa a minha alma”. Alma gêmea do meu existir, alva estrela que fulge em minha vida, e por aí eu vou a trilhar aqueles caminhos por mim abertos no imaginário... Deus! Eu enlouqueço!