Sobre ler e escrever
A leitura do tutorial publicado por Edna Lopes em 04 de março último, aqui no Recanto, despertou em mim o desejo de recuperar minha memória. Neste tutorial Edna nos conta de uma oficina pedagógica realizada com alfabetizadores do Programa Sesi – Por um Brasil alfabetizado, em Major Isidoro, no Sertão das Alagoas. A partir da narrativa de sua própria experiência, Edna incentivou os alfabetizadores a narrarem as suas. Como fui Alfabetizada(o) foi o tema desenvolvido na Oficina e eu, após ler os textos, fiquei tentando me lembrar do meu próprio processo. Não consegui. Não me lembro de não ler. Aproveitando um bate papo com minha mãe, aproveitando inclusive que ela está em uma idade de recuperação da memória mais distante, já que atualmente sua especialidade é contar casos antigos, perguntei-lhe: - Mãe, como aprendi a ler? Sua resposta gerou algumas histórias interessantes para a recuperação de minha história, embora ela não tenha respondido ao principal: Não sei, ela disse, só sei que quando você foi para a Escola você já sabia ler. Mas, a partir daí foi desfiando outras lembranças. Meu primeiro presente, ainda no berço, foi uma caixa de lápis de cor. Além disso, minha distração predileta, era folhear as revistas femininas que ela após ler, passava para mim. As poucas revistas infantis que eram publicadas eram todas compradas o que gerou o comentário de uma de minhas irmãs: então está explicado porque ainda hoje ela compra esta quantidade enorme de revistas e livros. Apesar do papo gostoso, falando das antigas revistas das quais eu me lembrava, minha inquietação não foi resolvida. Como ninguém nasce lendo, eu tenho que ter aprendido de uma forma ou de outra. Entre as minhas lembranças está o fato de gostar de ler gibis com meu tio, que pouco mais velho do que eu, comprava todos. Eu vivia ao seu lado, acompanhando suas leituras, perguntando, querendo tudo saber. Eu os folheava vendo as figuras, mas o que realmente me encantava eram as letras. Um dia, sem mais nem menos, eu estava lendo. Sei que ainda vou lembrar exatamente como aprendi. Mas enquanto não me lembro vou refletindo sobre outros assuntos, todos ligados a leitura e a escrita.
Além de gostar muito de ler, gosto muito de escrever. Ler é minha atividade principal, escrever é conseqüência. Eu não saberia escrever se não gostasse de ler. Algumas pessoas que dizem gostar de escrever, pouco lêem.
Ou quase nada. E parecem ter orgulho em dizer isso. Eu não posso compreender esta não-relação. Eu não acho possível que alguém possa escrever bem, se não lê. E não estou me referindo aqui aquelas pessoas que só escrevem sobre os seus próprios sentimentos, sua vida emocional, contam sua vida em diários trancados a sete chaves. Estou me referindo aos escritores, sejam eles profissionais ou não. Aqueles que sonham publicar e muitas vezes publicam. Está certo que muita gente que lê muito não gosta de escrever. Mas os que gostam, é surpreendente que não leiam, conheçam os grandes autores. E os pequenos também. É lendo que a escrita se aperfeiçoa. É escrevendo a moda de que adquirimos um estilo próprio. É vendo os erros nas publicações que lemos que podemos corrigir os nossos.
Outro tópico que acho interessante sobre esse assunto é quando me dizem: não sei por que devo conhecer regras para escrever bem. Escrevo o que sinto do jeito que quero. Eu concordo. Mas só em parte. Acho que regras foram feitas para serem quebradas. Mas para quebrá-las eu preciso conhecê-las. Eu não posso escrever um texto qualquer e dizer que é um soneto apenas porque achei o nome bonito, ou por qualquer outra razão. Eu tenho que saber o que é um soneto para recriar em cima dele. Mas antes de fazer isso eu leria mil sonetos. Tentaria conhecer a história do soneto, porque tudo tem uma história. E buscaria as variações bem feitas. Só então faria a minha variação. Apliquei este meu ponto de vista em relação ao poetrix. Embora já tivesse lido alguns poetrix (qual é o plural?) eu nem sabia que se chamava assim. Hoje, tenho quatro publicados. Mas antes busquei informações sobre suas regras. Depois li desatinadamente, tantos quantos eram publicados aqui. De tal forma que hoje eu sei quem é bom e quem não é. Consegui fazer quatro, não mais. É difícil ser sucinto e lírico ao mesmo tempo.
O Recanto das Letras foi uma descoberta e tanto em minha vida. Escrevo e leio bastante aqui. Escrevendo, aperfeiçôo a minha escrita. Lendo, conheço não só escritores fantásticos, como pessoas fantásticas. Mas vejo muita bobagem também. As bobagens tento ignorar. O que é bom, gosto de
dar retorno. Gostaria de poder ajudar alguns, que são bons, mas apresentam algumas falhas que facilmente seriam corrigidas. Vejo talento e sensibilidade neles, mas o bom escritor não é feito só de talento e sensibilidade. É preciso saber escrever a própria língua. Erros, todos cometemos. Mesmos os escritores famosos entregam sua obra à revisão. Mas alguns erros são tão gritantes que doem nas vistas. E denotam falta de leitura. Quem lê, mesmo que seja inimigo da gramática, aprende a escrever melhor.
O pensamento é uma coisa engraçada. A partir de um único ponto, ele vai indo e vindo, construindo em nossas mentes um monte de reflexões. Foi o que aconteceu comigo e esta crônica. Comecei pensando no texto publicado pela Edna e vim parar aqui. Espero que aqueles que a lerem tirem algum proveito. Como eu tirei.
A leitura do tutorial publicado por Edna Lopes em 04 de março último, aqui no Recanto, despertou em mim o desejo de recuperar minha memória. Neste tutorial Edna nos conta de uma oficina pedagógica realizada com alfabetizadores do Programa Sesi – Por um Brasil alfabetizado, em Major Isidoro, no Sertão das Alagoas. A partir da narrativa de sua própria experiência, Edna incentivou os alfabetizadores a narrarem as suas. Como fui Alfabetizada(o) foi o tema desenvolvido na Oficina e eu, após ler os textos, fiquei tentando me lembrar do meu próprio processo. Não consegui. Não me lembro de não ler. Aproveitando um bate papo com minha mãe, aproveitando inclusive que ela está em uma idade de recuperação da memória mais distante, já que atualmente sua especialidade é contar casos antigos, perguntei-lhe: - Mãe, como aprendi a ler? Sua resposta gerou algumas histórias interessantes para a recuperação de minha história, embora ela não tenha respondido ao principal: Não sei, ela disse, só sei que quando você foi para a Escola você já sabia ler. Mas, a partir daí foi desfiando outras lembranças. Meu primeiro presente, ainda no berço, foi uma caixa de lápis de cor. Além disso, minha distração predileta, era folhear as revistas femininas que ela após ler, passava para mim. As poucas revistas infantis que eram publicadas eram todas compradas o que gerou o comentário de uma de minhas irmãs: então está explicado porque ainda hoje ela compra esta quantidade enorme de revistas e livros. Apesar do papo gostoso, falando das antigas revistas das quais eu me lembrava, minha inquietação não foi resolvida. Como ninguém nasce lendo, eu tenho que ter aprendido de uma forma ou de outra. Entre as minhas lembranças está o fato de gostar de ler gibis com meu tio, que pouco mais velho do que eu, comprava todos. Eu vivia ao seu lado, acompanhando suas leituras, perguntando, querendo tudo saber. Eu os folheava vendo as figuras, mas o que realmente me encantava eram as letras. Um dia, sem mais nem menos, eu estava lendo. Sei que ainda vou lembrar exatamente como aprendi. Mas enquanto não me lembro vou refletindo sobre outros assuntos, todos ligados a leitura e a escrita.
Além de gostar muito de ler, gosto muito de escrever. Ler é minha atividade principal, escrever é conseqüência. Eu não saberia escrever se não gostasse de ler. Algumas pessoas que dizem gostar de escrever, pouco lêem.
Ou quase nada. E parecem ter orgulho em dizer isso. Eu não posso compreender esta não-relação. Eu não acho possível que alguém possa escrever bem, se não lê. E não estou me referindo aqui aquelas pessoas que só escrevem sobre os seus próprios sentimentos, sua vida emocional, contam sua vida em diários trancados a sete chaves. Estou me referindo aos escritores, sejam eles profissionais ou não. Aqueles que sonham publicar e muitas vezes publicam. Está certo que muita gente que lê muito não gosta de escrever. Mas os que gostam, é surpreendente que não leiam, conheçam os grandes autores. E os pequenos também. É lendo que a escrita se aperfeiçoa. É escrevendo a moda de que adquirimos um estilo próprio. É vendo os erros nas publicações que lemos que podemos corrigir os nossos.
Outro tópico que acho interessante sobre esse assunto é quando me dizem: não sei por que devo conhecer regras para escrever bem. Escrevo o que sinto do jeito que quero. Eu concordo. Mas só em parte. Acho que regras foram feitas para serem quebradas. Mas para quebrá-las eu preciso conhecê-las. Eu não posso escrever um texto qualquer e dizer que é um soneto apenas porque achei o nome bonito, ou por qualquer outra razão. Eu tenho que saber o que é um soneto para recriar em cima dele. Mas antes de fazer isso eu leria mil sonetos. Tentaria conhecer a história do soneto, porque tudo tem uma história. E buscaria as variações bem feitas. Só então faria a minha variação. Apliquei este meu ponto de vista em relação ao poetrix. Embora já tivesse lido alguns poetrix (qual é o plural?) eu nem sabia que se chamava assim. Hoje, tenho quatro publicados. Mas antes busquei informações sobre suas regras. Depois li desatinadamente, tantos quantos eram publicados aqui. De tal forma que hoje eu sei quem é bom e quem não é. Consegui fazer quatro, não mais. É difícil ser sucinto e lírico ao mesmo tempo.
O Recanto das Letras foi uma descoberta e tanto em minha vida. Escrevo e leio bastante aqui. Escrevendo, aperfeiçôo a minha escrita. Lendo, conheço não só escritores fantásticos, como pessoas fantásticas. Mas vejo muita bobagem também. As bobagens tento ignorar. O que é bom, gosto de
dar retorno. Gostaria de poder ajudar alguns, que são bons, mas apresentam algumas falhas que facilmente seriam corrigidas. Vejo talento e sensibilidade neles, mas o bom escritor não é feito só de talento e sensibilidade. É preciso saber escrever a própria língua. Erros, todos cometemos. Mesmos os escritores famosos entregam sua obra à revisão. Mas alguns erros são tão gritantes que doem nas vistas. E denotam falta de leitura. Quem lê, mesmo que seja inimigo da gramática, aprende a escrever melhor.
O pensamento é uma coisa engraçada. A partir de um único ponto, ele vai indo e vindo, construindo em nossas mentes um monte de reflexões. Foi o que aconteceu comigo e esta crônica. Comecei pensando no texto publicado pela Edna e vim parar aqui. Espero que aqueles que a lerem tirem algum proveito. Como eu tirei.