A sua fortaleza

Abriu os olhos, e apenas uma larga faixa branca enxergou, os fechou novamente, respirou calmamente, como quem quer sentir cada milímetro cúbico de oxigênio que invade seu corpo, até serem tragados por seus pulmões, e deliciou-se com mais um instante de vida.

Alongou-se de forma, que sentiu os estralos de seus ossos, que o levaram a uma sensação de força e existência, se movimentando, seus músculos que despertavam, geravam, uma sutil mistura, de agonia, dor e prazer.

O branco que via, era a tinta que encobria as rachaduras e o mofo do seu céu de mentira, era seu teto, que em momento algum, estrela se via. E nem mesmo ele o protegia, das tempestades que todo novo dia, poderia trazer e consigo fazer estragos, que levariam tempos para serem reparados. Existencialmente, toda tempestade deixa um ser por muito abalado.

Esse teto transformara seu espaço em uma simples caixinha de surpresas, que nunca nada é revelado, não a sustos com palhaços, ou lágrimas com emocionadas imagens, é um espaço fechado, de vivências inusitadas, onde choros, sorrisos e por que não gemidos, são dados. Pensamentos são elevados a sentimentos, questionamentos se fazem verdades, ilusões caem por terra e trazem infelicidades, o desejo é compartilhado, a solidão é cultivada, por este teto, nada escapa, tudo fica condenado a ser vivenciado. Espaço infinito, completo de tantas possibilidades, pequeno e profundo em sua diversidade, neste lugar não fica pela metade, está cheio de si, sendo profano, ou ícone de divindade. Este lugar agrega tamanha liberdade.

Do que via sabia, que seu complemento existia, era apenas deixar-se encontrar, neste espaço fisicamente pequeno, invariavelmente possibilista, sempre teria onde procurar, era um dia que começava, e outro que findara, neste mesmo espaço repartilhavam a dor do fim, e a felicidade do começar.

Seus olhos abertos, para mais um dia, janela distinta de uma alma conturbada ou sublime, se prepara para as durezas deste mundo, cenas que causam dor, momentos de indiferença, inércia pelas incongruências de desatinos que são tidos como fortalezas.

Mais um dia começa, não quando se desperta, nem quando a alma inquieta tende a se questionar, delirar, sonhar.

Entra no tempo cronológico, da vida ilógica, que leva sem reclamar, quando abri e se retira, de sua caixa tantas vezes pequenina, mas vasta, que o permite se libertar, esteja acordado, ou esteja a sonhar!

"O quarto, mundo encantado, quatro paredes de você em você"