Sou inocente

Nunca fui bem resolvida quanto a problemas sociais. Eles existem, eu sei, mas na maioria das vezes torno-me alheia a eles, procurando proteger-me de verdades que me martirizam a mente, que me incomodam e que pedem atitudes que eu não tenho coragem de fato de tomar. Queria ser reivindicante como certos líderes que nossa história marcou, ter seus momentos de coragem e ousadia, na luta destemida pelo que acreditam , visando o bem comum. Não sou assim.

Mas sei que os mesmos existem, e alimento minha sede de justiça interna,orando e intercedendo por todos os injustiçados. Pedindo para que os demais seres humanos se conscientizem de que somos todos irmãos, de que desejamos todos os mesmos sonhos realizados. As vezes não consigo me alhienar completamente, pois sou fã incondicional de uma boa leitura. Não tenho predileções, o fato de estar lendo algo que contribua para o meu crescimento, já me é satisfatório.

Assim sendo, cai em minhas mãos constantemente livros de grande ajuda para mim. Livros que abrem minha mente, fazendo-me conhecer o que ainda desconheço, integrando-me a mundos distantes do meu, com realidades completamente diferentes da minha, fazendo-me pensar sobre tantas coisas da vida. E nestes dias tive em minha cabeceira, fazendo-me companhia diária um livro intitulado '' O inocente de autoria de John Grisham '' .

Um livro que relata a história real de um homem comum, inocente, sendo vítima de um sistema judiciário negligente, desumano e corrupto.

Um homem que é submetido a tratamento cruél, levado sob regime de torturas físicas e emocionais. Um ser humano que foi esquecido pela lei e pela justiça que o deveriam ajudar e na verdade foram seus maiores inimigos. Este livro fez-me pensar em quantas atrocidades são cometidas enquanto estou em minha cama num soso sossegado, em quantas impunidades e crueldades são acometidas sem que sejam reparadas.

Sei que não podemos ser a palmatória do mundo, mas revolta-me saber que são delegados poderes a quem não tem preparo para lidar com o outro como um ser humano igual a si próprio. Nascemos imperfeitos, sofremos abusos, vivenciamos frustrações e muitas vezes não sabemos como trabalhar todas essas negações dentro de nós mesmos, e erramos. Não defendo aqui os criminosos, nem recrimino suas exclusões da sociedade, tampouco que paguem por seus crimes, mas sim, o modo como isso é encarado e solucionado pelos sistemas.

Não tenho conhecimento algum sobre criminologia nem dos processos que envolve tudo isso, mas é errado sob meu ponto de vista condenar alguém, sem nenhuma evidência concreta de sua culpa,e acho injustiça declarada um processo de acusação ser todo construído a partir de comprovações científicas duvidosas e testemunhos repletos de contradições. Para mim cabe a justiça conceder o direito de declarar-se inocente até que se prove o contrário e vice e versa.

Todos temos o direito à dúvida, sem nenhuma evidência concreta da culpa, se é inocente. E se refutavelmente for comprovada a culpa que o mesmo seja tratado com dignidade humana. O cárcere privado de um ser que tenha cometido um delito, é um ambiente para sua reabilitação, para seu arrependimento e sua reconstrução emocional e psíquica para voltar ao convívio da sociedade. Mas os cárceres não são assim. São ambientes que desajustam todo e qualquer ser humano que caia nele. É mais do que provado com oque se vê nos meios de comuinicação e que pode perfeitamente ser comprovado na realidade, que a corrupção é crescente, que as propinas são alarmantes e que o descaso com o ser humano é cada vez menor.

É duro demais encarar a realidade que a cada dia que passa, os direitos humanos vem sendo esquecidos e banalizados, dando lugar a mentiras ocultas, a crimes insolúveis. A precariedade dos sistemas penitenciários, dos órgãos de defesa do direitos humanos vem sendo crescente e assustadora. Sou inocente é um livro que mexe com as emoções e que faz um alerta sobre assuntos polêmicos, aos quais eu poderia ficar a escrever por horas a fio, com intermináveis pontos de vista, relatos e opiniões.

Concluo afirmando categoricamente que até que se provem o contrário, sou inocente, e os que assim não entendam que atirem a primeira pedra. Pois até termos sobre nossos ombros o peso da culpa somos deliberadamente inocentes. E que definitivamente sou consciente de que se errei , pagarei por meu erro, mas tendo meus direitos de tratamento humano preservados.

milizinha
Enviado por milizinha em 06/03/2008
Reeditado em 19/05/2011
Código do texto: T890054
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