CINCO DE MARÇO

        Hoje, dia do meu aniversário, amanheci lendo Anselm Grün. Aliás, nos últimos tempos, esse ilustre teólogo beneditino tem me feito companhia nas minhas horas de meditação; poucas, mas acontecem.
        Detenho-me, demoradamente, em seus preciosos conselhos, numa obstinada tentativa de caminhar melhor por este mundo velho. 
        Com sua ajuda, pretendo ser cada vez mais feliz, na estrada que ainda me resta percorrer...
        Não costumo festejar meu aniversário. 
        Não o fiz nem quando curtia, com todo o fôlego, minhas primaveras. 
        Não vejo sentido comemorá-lo, agora, no momento em que me encontro no ocaso, depois de suportar mais de meio-século de vida. 
        Satisfaço-me, revivendo o meu passado, normalmente recheado de excelentes relembranças...

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        Aproveitando a efeméride (arre!), peço licença aos meus leitores para transcrever esta maravilhosa página de dom Grün, que acabo de ler.

               
O brilho da primeira vez

        A tradição cristã do memento mori  ("Lembra-te de que morrerás") nos recomenda imaginar que cada dia poderia ser o último. Por isso, devemos viver cada dia conscientemente e saboreá-lo com gratidão. 
        Um provérbio grego oferece um outro conselho: "Comece cada dia como se fosse o primeiro. Encerre cada dia como se fosse o último". No início do dia devemos imaginar que ele é o primeiro dia de todos que estamos vivendo. 
        Sabemos, é claro, que não é o primeiro.
        Mas quando modelo o início do dia conscientemente como se fosse o primeiro da minha vida consciente e desperta, entro nele  com atenção e, ao mesmo tempo, com curiosidade. 
        Olharei para as pessoas  como se as estivesse vendo pela primeira vez. Preconceitos se dissolverão. O que pensei até então sobre aquela pessoa já não importará mais.
        Todas as classificações nas quais coloquei pessoas desaparecerão.
        Tudo seria diferente: iria me dedicar com curiosidade ao meu trabalho. Ficaria contente em fazer as coisas com se estivesse fazendo-as pela primeira vez.  Não teria medo de não dar conta do meu trabalho. Antes, experimentaria de bom grado uma forma de fazê-lo habilidosa e prazerosamente. 
        E olharia com olhos novos para a criação em torno de mim. Olharia para meu jardim como se fosse inteiramente novo. Descobriria nele muitas belezas que deixei de perceber até então.
       Ao encerrar o  dia devo imaginar que seria o último.
        Para mim, isso quer dizer: encerro esse dia como se fosse o fim da minha vida. Deposito tudo na boa mão de Deus: esse dia, a mim mesmo, todas as pessoas que me são queridas, toda a minha vida. 
        Tal encerramento do dia me permite, ao mesmo tempo, um novo começo. E me dá a sensação de que deveria constantemente abrir mão de tudo para me entregar nas boas mãos de Deus. 
        A noite me lembra do sono da morte. E cada manhã experimento a ressurreição para a nova vida que Deus me possibilita.
        Há uma grande sabedoria nesse provérbio. Ele transforma meu começar e encerrar, meu início e meu fim."   ( In "Sobre o prazer na vida")

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        Se tecer qualquer comentário em torno desse texto, estarei, sem dúvida, correndo o risco de tirar-lhe o brilho.  
        Ao completar mais um ano de vida, prefiro ir em frente, acolhendo-o como mais uma lição.  
         Lição de dom Anselm Grün com quem seguirei,  procurando, já disse, com sua ajuda, viver (ou sobreviver?) mais fácil... 

       
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 05/03/2008
Reeditado em 11/02/2009
Código do texto: T888435