AH! O BEIJO DE AMOR

O beijo tem o maravilhoso condão de acender cada uma das deliciosas luzes que somente o coração conhece em todos os seus mais profundos recantos na mente e no corpo humano. À guisa de uma onda de calor que percorre os milhões de células no organismo dos enamorados, provocando o maravilhoso instante cálido responsável pelo bem estar e pelo humor agradável, ele vai palmilhando os pontos sensíveis e eriçando os vasos capilares, causando gostoso frenesi no coração. O beijo abre as comportas das sensações e desperta, de maneira automática, deixando de prontidão até mesmo os mais incógnitos e invisíveis dos átomos que compõem o conjunto orgânico da vida, o desejo quase incontrolável, o querer expresso no brilho do olhar e no afago das mãos.

Tudo mesmo, de verdade, acorda em transe indizível na fisiologia dos seres quando os lábios se tocam com suavidade, a princípio, depois cheios de avidez, e se fundem num beijo ardente capaz de proporcionar aos corpos uma sonhadora viagem além-tudo, uma aguda ternura e a dialética só compreensíveis pelos dois naquele instante de pura magia e gostosa singeleza. Parece-nos assistir a desconcertante contudo cadenciado bailado acompanhando a música tocada pelos corações em alta pulsação, no preciso instante do beijo. O maestro do fascinante momento é apenas a emoção com todos os seus meandros, que direciona os sentidos em estado de alerta para o único e precípuo objetivo de fazer daquele ato delicioso um oceano de prazer para o casal.

Beijar alguém é a prova mais inequívoca de gostar dessa pessoa, de sentir-se bem ao seu lado, de querer demonstrar o carinho especial que somente os beijos, em determinadas situações, podem oferecer de maneira concreta. O beijo dado na boca é, realmente, sinônimo de algo mais no relacionamento a dois, do encantamento, da intensa alegria que se quer dedicar à pessoa amada. Quem beija ama ou, no mínimo, pensa amar, isso evidentemente não se traduz como um mero gesto sem importância, algo aleatório ou à moda contemporânea em que o beijo tornou-se, para muitos, uma perfídia, um toque desprovido de sentimento.

Os que enveredam pelo ultra modernismo contemporâneo de beijar qualquer um(a) nas baladas da vida, mesmo a quem é totalmente desconhecido, não o fazem movidos pelo romantismo nem por esse anelar estar sempre com a pessoa amada, essa vontade que dá e não passa jamais de passear de mãos dadas por aí, sem qualquer rumo, mas são levados pela onda da busca insensata do nada, circulando pelas veredas da própria orgia poderíamos até mesmo ousar em afirmar. Refiro-me como parêntesis a essa perspectiva de vanguarda simplesmente porque nestas mal traçadas linhas eu tento fazer reflexão sobre o verdadeiro ato de beijar sob o ímpeto do amor, a seu incontrolável impulso, do se realizar como nunca, do desejar estar ao lado de quem realmente amamos. E, nesse aspecto, o beijo, sem nenhuma dúvida, se torna quase como uma cerimônia solene, uma linda e complexa cumplicidade entre os que se amam, porém invisível a quantos não conhecem nem conseguem definir seus olhares, gestos e atitudes, todos inerentes apenas e tão-somente a ambos.

Porque sou inteira e completamente pelo beijo de amor, seja ele somente com intenção fraternal ou tenha aquele algo mais como entre os enamorados. Beijar não deveria, nunca mesmo, tornar-se um mero comportamento sem qualquer graça, um simples tocar desprovido de sentir, incongruente juntar de lábios sem a força motriz do amor. Todavia, considerando que o viver é um passatempo cheio de inúmeras possibilidades, melhor beijar, ainda que vazio de sentimento, do que esbofetear alguém. Que não seja, pelo menos isso, um beijo de Judas. Ah, o beijo de amor!

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 05/03/2008
Reeditado em 22/07/2010
Código do texto: T888073
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