A INSÔNIA.

 

   Este texto começou a ser escrito exatamente às quatro horas da manhã. A casa está em completo silêncio e olhando pela janela vejo que o céu está limpo, estrelado e com aquela lua cheia que todo namorado deseja ter em suas noites românticas.

   Perdi completamente o sono. Raramente isso acontece e vou dizer uma coisa, pior do que insônia, só praga de sogra e dor de dentes. Tudo começou......

    .......eram exatamente 21:30 quando consegui estacionar o carro na garagem. Tinha sido um dia difícil, irritante, improdutivo e cansativo, com um trânsito infernal e eu só queria tomar um banho, comer uma saladinha, cochilar em frente a TV e no máximo às 11:00 ou quem sabe 11:30 estar na cama já no terceiro sono.

    Aparentemente estava acontecendo exatamente como eu planejara, com exceção da salada que foi substituída por uma sopa de entulhos e pelo fato da minha caçula de 4 anos já estar dormindo. Não sou muito fã de sopas (principalmente de entulhos) mas como estava cansado e com muito mais sono do que com fome não reclamei (também, mesmo que reclamasse a janta seria sopa de entulhos).

    O que me surpreendeu foi a caçula já estar deitada aquela hora. A explicação é que ela não tinha dormido à tarde e portanto, logo após a sopa “apagou” no colo da mãe.

    Olhei para o relógio de cabeceira e percebi vagamente que eram 23:15 , quando bati com a cabeça no travesseiro. Lembro-me de ter olhado mais uma vez e se não me engano eram 23:20 no máximo. Adormeci.

   Tive a impressão de que uma mãozinha me sacudia tentando me acordar. Ao longe ouvia uma voz dizendo que estava com sede. Só podia ser um sonho.

    Mas não era. Minha caçula queria tomar água e o relógio de cabeceira não conseguiu me enganar. Eram 0:15 e já desperto fui à cozinha, dei meio copo d'água para minha caçula (que só bebeu dois goles) e só consegui voltar para a cama depois de contar pela milésima vez a história do Chapeuzinho Vermelho (na minha versão não tinha floresta e sim um shopping como também era a vovó que comia o lobo...).

    Meu relógio me lembrava que eram 1:10 de uma madrugada silenciosa e com uma brisazinha suave. Ao longe um gato miava. Não era bem um gato que estava miando. Seu miado estava muito parecido com o toque do meu telefone. Era meu telefone.

    Um cidadão sonolento, com a voz de quem era gordo e comilão queria duas pizzas médias de sardinha caprichadas no alho. Tive a paciência de informar que aquele telefone não era de uma pizzaria e para me livrar do chato disse que era de um depósito de gás.

    Ele ficou muito satisfeito, comentou alguma coisa sobre uma enorme coincidência, agradeceu e perguntou se poderia deixar anotado uma encomenda para ser entregue assim que o expediente começasse. Desliguei o telefone e deixei fora do gancho.

    Eram 1:45 quando abracei o travesseiro com toda força. Cinco minutos depois me deu vontade de ir ao banheiro. Agüentei o quanto pude mas não teve jeito, era melhor ir logo de uma vez e voltar mais rápido ainda para a cama. Talvez desse tempo de tentar dormir tranquilo.

    Voltei para o quarto e dessa vez abracei o travesseiro com mais força ainda. Antes de fechar os olhos olhei para o relógio e ví , com toda clareza que eram 2:20.

   Não deveria ter falado em clareza (lembra claridade), pois alguma coisa estava me incomodando. Era a lâmpada do corredor e nesse caso eu só tinha duas alternativas: ou me levantava para apagar a lâmpada ou me levantava para fechar a porta do quarto.

   Mais uma vez me levantei e desta vez para apagar a lâmpada do corredor e fechar a porta do quarto. Consegui abraçar novamente o travesseiro às 2:30.

   Fechei os olhos, rolei para um lado e depois para o outro. Liguei o rádio, contei carneirinhos, tentei assoviar e nada do sono chegar. Lembrei-me que minha sogra sempre dizia que nada melhor que uma caneca de leite morno para que o sono chegasse quase que imediatamente.

   Eram exatamente 3:00 quando engoli o leite de uma golada só. Ainda em pé, fechei os olhos, tentei relaxar e cambaleando fui para o quarto. Outra vez abracei o travesseiro com toda força e então percebi , de novo, a claridade incômoda da luz acesa no corredor.

   Não preciso lembrar que só tinha duas alternativas. Ou me levantava ou me levantava. Pensei bem e resolvi arriscar. Só me levantei para encostar a porta. Não deu certo. Me levantei novamente, apaguei a luz do corredor e tonto de sono voltei para a cama.

   Devo ter cochilado uns dez minutos no máximo pois a brisa que entrava pela janela se transformou num vento forte e de tão forte fez com que a porta do quarto batesse com um grande estrondo. Ninguém acordou, só eu (aliás, pensando bem, já estava acordado). Ao longe percebi que outra porta estava batendo. Era a do banheiro. A ventania aumentava.

   Mais uma vez me levantei, acendi a lâmpada do corredor e antes de voltar prá cama, fui ao banheiro, puxei a descarga (que aliás de madrugada faz um barulho terrível), dessa vez fechei a porta do quarto e pulei na cama, agarrando com muito mais força o travesseiro.

   Tolice minha tentar dormir. Tinha esquecido a luz do corredor acesa. Pela última vez nesta madrugada me levantei, fui a cozinha tomei um copo duplo de água gelada, voltei ao banheiro puxei a descarga com toda força (a essa altura já não estava me preocupando com o barulho), desliguei a luz do corredor e como já tinha perdido o sono , vim para o computador e é por este motivo que estou aqui escrevendo esta crônica.

   A ventania passou, nem sinal de chuva e a noite está estrelada e com lua cheia . Ainda bem que amanhã é sábado.....

 

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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 05/03/2008
Reeditado em 08/01/2013
Código do texto: T888053
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