NO JÚRI

Esta história é um clássico da crônica forense daqui. Não irei citar o nome da figura, bastante conhecida; era um advogado criminalista, destes que gostam que atuar em júris, onde dão espetáculo ajoelhando-se, suplicando, chorando, rolando no chão, estas coisas, tudo isto para – dizem – melhor defender os interesses de seus clientes.

O caso era difícil. Uma senhora estava sendo julgada pelo assassinato do marido. O ministério público fizera a acusação, e mostrara a prova mais contundente: um pequeno frasco com a substância tóxica com o qual ela o envenenara. Agora seria a vez de nosso personagem realizar a defesa da ré:

- senhores jurados, espero que tenham a consciência de que serão os únicos responsáveis pela condenação ou absolvição desta mulher totalmente inocente, dona de casa exemplar e...

Prosseguiu no blablablá com seus trejeitos característicos, herdados de quando fazia programa de rádio policial. Neste programa ele imitava, de maneira cômica, os personagens dos fatos narrados. Voltemos ao julgamento. Em certo momento da defesa, já completamente tomado pela emoção, começou a questionar o modo de execução do crime. O pequeno frasco ainda estava aberto sobre a mesa.

- imaginem, senhores jurados, se isto aqui mataria alguém. Isto não mata ninguém, e eu posso provar...

Talvez até mesmo inconscientemente, meteu o dedo indicador no frasco e levou-o à boca ante a expressão atônita dos jurados.

- isto aqui não mata ninguém!

E prosseguiu no lero por mais uns vinte minutos. Até que subitamente dirigiu-se para a parede, onde encostou a cabeça, suando muito e com a mão no estômago. Chamaram a ambulância e o julgamento foi suspenso. Resultado: o causídico conseguira realizar, na frente do júri, uma simulação do assassinato. E quase morreu, efetivamente. A ré acabou sendo condenada pela unanimidade dos jurados.