VIAGEM VIRTUAL

Nestas paradas que às vezes a vida nos impõe aproveito para fazer um balanço. Hoje estou num hospital por um problema da companheira de viagem desta longa estrada da vida, como canta o violeiro.

Na sala de espera observo um casal, a mulher imensa, corpo de lua, os membros esquálidos, não condiz com o corpo; o homem, magrinho de óculos, calça social, camisa de mangas, cabelos espetados e com as raízes branqueadas. A senhora tinha acabado de perder a mãe, estava chorosa, mas era a estrela da sala, ou melhor, a lua cheia, atendia a dois celulares ao mesmo tempo, informava aos parentes do ocorrido, pedindo a eles que não noticiassem o passamento ao seu pai, que isto ela mesma faria. Neste instante chega o pessoal da funerária e ela negocia e acerta os detalhes do enterro. Os celulares não param, para cada atendimento uma choradinha, uma choradinha e um atendimento de celular, e o marido um pastel ao lado, não de feira, mas aquele de rodoviária adormecido de um dia para outro. Penso que se fosse sua mãe, ele continuaria pastel e a Senhora é que tomaria a frente de tudo.

Em alguns casamentos as mulheres acabam tomando a frente, e os homens se acomodam e perdem a iniciativa para as coisas praticas da vida, comigo foi mais ou menos assim.

Hoje, já estou praticamente com dois filhos formados, já escrevi um livro, técnico é verdade, mas o provérbio não fala de que tipo teria que escrever, plantei muitas árvores, neste quesito, ainda continuo em divida, pois como engenheiro derrubei muitas delas. Então, de acordo com o ditado já fiz a minha parte. Não se preocupem, não estou falando em sair desta vida, estou falando em mudar de vida.

Perto de me aposentar, daqui a cinco anos, o que gostaria de fazer? Na realidade não sei, de repente me tornar barqueiro na região amazônica, ou jangadeiro no Ceará, penso também em ser voluntário numa escola escolhida entre as piores no “ENEM” e trabalhar para melhorar a qualidade de ensino, colocá-la num nível de excelência. Passar um mês num acampamento dos “sem terra”, ver o mundo de uma ótica diferente, estão entre os meus planos. Fazer a diferença ou quem sabe sentir a diferença.

Meu transporte, nesta nova fase, provavelmente não seria um carro, seria uma moto ou quem sabe um barco. Jamais usar uma calça social. É lógico que nesta viagem virtual a gente não enxerga os percalços, o calor excessivo da região amazônica e do Ceará, o desconforto do acampamento dos “sem terra” as crianças remelentas das escolas deficitárias sem estimulo para estudar, com os pais querendo que elas entrem logo na lida da vida. A visão é sem pernilongos, é romanceada afinal é virtual. É preciso não envelhecer, é preciso renascer.

Defranco
Enviado por Defranco em 04/03/2008
Reeditado em 03/03/2016
Código do texto: T887039
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