Sobre o pai
            de Jesus



                              
          1.Talvez seja eu um dos poucos que ainda não entendeu bem esta história de São José ser o pai adotivo de Jesus.  Estarei pecando? Creio que não. Mas deixemos isso pra lá...
          2. Estamos em março. No dia 19, a Igreja  festeja o discreto santo carpinteiro. Essa celebração acontece, desde 1870. Nesse ano, Pio IX proclamou o esposo de Maria Patrono da Igreja Universal; a Igreja de Roma e não a outra. 
         3. Desde criança, cultivo, com o máximo respeito, a devoção por este santo "cearense". Santo cearense? Sim. Concedi-lhe este título no dia em que me disseram ser São José o padroeiro do Ceará.
          4. Para nós, cabeças-chatas, é ele o santo que faz chover no Ceará. Toda vez que  a estiagem prolonga-se e maltrata, o matuto cearense pede a São José que mande uma chuvinha pro sertão. Faz  seu pedido nas procissões e nas novenas; e haja benditos sonorosos e suplicantes.  
          Se na noite do dia 19 de março não cai pelo menos uma boa neblina, a seca está declarada. E o desânimo toma conta dos alencarinos.
          5. Nos Evangelhos sinóticos, São José é encontrado em textos considerados muito tímidos; apesar da sua importância na formação da Sagrada Família. 
          Nem na visita dos magos à manjedoura José aparece, lembra o Papa Bento XVI, no seu belo livro "A infância de Jesus".         
         6. Sabe-se que os teólogos católicos tratam, com esmerado carinho mas com muita cautela, o amor que uniu José, um viúvo de idade avançada, a Maria, a jovem "Virgem do Senhor".
          Não sou teólogo. Por este motivo, jamais ousarei esmiuçar o  romance que existiu entre Maria, a filha de Joaquim e Ana, e  José, o silencioso e digno carpinteiro de Nazaré.  Sou doido, mas tenho juízo...
          Sobre São José, fico com a opinião de Fernando Altemeyer, respeitado professor de Teologia da PUC-SP, que é esta: "Ele era um homem justo, como disse minha mãe.
          7. Se os Evangelhos canônicos pouco falam sobre São José, nos Apócrifos ele é descrito e comentado com maior flexibilidade, tornando-o um personagem bíblico mais próximo da realidade. 
          8. Segundo os Apócrifos, quando Maria lhe foi apresentada, ela tinha 16 anos de idade! Tomado de surpresa, José recusara-se a recebê-la como esposa. Justificou sua recusa apresentando  argumentos considerados procedentes. Dois deles: a existência dos seus seis filhos  e  já ser um velho.
          9. O experiente carpinteiro sabia que seria complicado casar com uma jovem bela e virgem e depois ter que explicar essa inusitada união à exigente sociedade do seu tempo.
           11. Fora, porém, convencido a aceitá-la, depois que, dos sacerdotes, ouvira esta advertência: "Coube a ti a sorte de desposar e receber em custódia a virgem do Senhor."           12. Um detalhe sobre o santo carpinteiro que me parece interessante: os quatros evangelistas - Mateus, Marcos, Lucas e João - não contam como São José morreu!
           13. Os Apócrifos narram como foi a passagem de São José para a eternidade.  Ele teria morrido nos braços de Maria e de Jesus, que, na ocasião tinha dezoito anos de idade.           Informam ainda os Apócrifos, que Jesus não se afastou um só instante do pai agonizante.
         14. Antonio Piñero, autor de "O outro Jesus segundo os evangelhos apócrifos",  diz que foram estas as palavras de Jesus diante do corpo do seu velho pai, antes de vê-lo enterrado: 
        - "Em respeito a todos aqueles que honrarem a memória do meu pai na Terra, seja com esmolas, ou colocando seu nome em seus filhos, farei com que, ao abandonarem este mundo, desapareça o livro celeste no qual estão escritos seus pecados e não sofram tormento algum." É por isso, meu amado leitor, que no meu Ceará tem tantos Zés. 
           15. E os Apócrifos frisam que Jesus "chorou por longo tempo" sobre o corpo do seu genitor terrestre que partia para o céu.  Jesus chorou!...  Fantástico, hein?