SUFOCO NA CANELA .

O primeiro grito, parecia-me bem distante, eu até achei que era coisa do meu sonho. O segundo grito, pareceu-me dentro da cabeça, dentro do meu quarto. A vizinha pedia acuda, ajuda, socorro, a casa dela estava cheia d'água. A chuva que começou na tarde anterior, durante a madrugada, havia aumentado consideravélmente. A madrugada dava medo em qualquer cristão.

Os primeiros vizinhos já estavam a postos. Foram surgindo de todos os lados. Homens e mulheres, despostos a socorrer a vizinha. Adrentamos a sua casa ou barraco,(Como ela mesmo se referia). A água estava já acima da canela. Fomos pegando tudo que encontrava-mos pela frente e colocando nos lugares mais alto, mesa, beliche, geladeira, (Apesar de já está em cima de uma caixa de cerveja prá proteger o motor). Tudo precisava ser salvaguardado com uma certa urgência para não se perder na enchorrada.

Naquele momento de desespero, eu pude notar ção e gato juntos, um encostadinho no outro tentando se proteger como podiam.

Resolvemos arrebentar uma das paredes dos fundos do barraco. A água saiu levando tudo. Sapatos, sandálias, prinquedos dos meninos, roupas, livros, cd's. Enfim, tudo que estava pelo chão. Foi feito uma barreira com as canelas, para tentar empedir o fim do mundo. A chuva dimínuia. Nos sentamos em caixas de cervejas. A vizinha abriu um litro de 51, (Que nem sempre é uma boa idéia). Para aqueles que diziam ser mais frientos, tomar uma para esquentar. Eu pedi um pouco de café, mesmo que fosse requentado. Ela, mesmo preocupada com o estrago, ficara feliz por não ter acontecido algo mais grave com sua cria. De certo que no amanhecer, após uma faxina, tudo voltaria ao normal. E assim o foi.

No fim da tarde, lá estava ela toda risonha a vender suas bebidas e tira-gosto prá rapaziada do lugar, como se nada tivesse acontecido. Só as marcas nas paredes, denunciavam, que alí, a chuva havia feito mais um filho do criador, passar a noite acordado.