VÁRIOS CEBOS, 12 SINFÔNIAS E UMA BALUARTE

Aquele caminho para o artista era sagrado, principalmente porque estava ao pés da igreja de um santo católico que ele muito admirava. E que no sincretismo religioso respeitava mais ainda. Ele atá as vezes, era convidado a ir por outro caminho, mais desistia, não adiantava ninguém insistir. Ele nem se quer preocupava-se com a aladeira, (E que senhora ladeira, de responsa mesmo). Ele subia, remano mais subia.

No meio da ladeira, costumava parar, (Respirar naquele momento era inevitável, respirar com calma, beber um gole d'água, colocar as mãos nas cadeiras, despeijar um pouco de água em uma das mãos e passar no rosto suado). Parava e ficava ouvindo. Ouvindo aquela incansável sinfônia. Sinfônia inacabada dos cebos, (Era assim que ele costumava chamar aquele barulho ensurdessedor que vinha de um grande pé de rosa graxa.

Logo ao amanhecer, o pé de rosa graxa, era tomado de assalto por vários "cebinhos", (Pequenino passáro amarelo e preto, muito parecido com um beija-flor). Eles vinham de todas as direções. Machos e fêmeas, misturavam-se entre as folhas e flores do pé de rosa graxa. Essa espécie de passáro, não costuma cantar com outra espécie, (Imagine todos chamando-se ao mesmo tempo, que zona). E voam e chamam, e voam e chamam. Aquilo era uma beleza para os ouvidos do artista.

Ele sentava-se no meio-fio. Aproveitava para descansar da sobida da ladeira, (Como se fosse desculpas a dar a alguém que o observasse subindo a ladeira desageitado). Ele gostava daquela algazarra toda em volta do pé de rosa graxa. Pensava até em um dia quando podesse comprar sua nova câmara, (Daquelas que chamam por ai de digital). Tiraria uma bela foto do pé de rosa graxa vermelha, (E de sorte, se é que subir uma ladeira daquelas fosse dizer ter sorte). Levaria de quebra, a pose de um ou outro "cebinho", fosse macho ou fêmea.