MINHA AMIGA NINFOMANÍACA

Ah, Penha... Como ela era linda! Eu, na mesinha do bar, e lá vinha ela com a cerveja geladinha na mão. “Oi amiguinho”, dizia. E sentava na mesa onde batíamos longos papos, até que viessem outros fregueses solicitar os serviços dela. O bar lotava todas as noites, e eu tinha a certeza que a causa era aquela moça recém-casada, quinze anos mais nova que o Xavier, seu marido e dono do estabelecimento.

Ela fazia inúmeros tira-gostos, com os quais enchia a estufa. Simpaticíssima e inteligente, conversava sobre qualquer assunto, e tinha um excelente senso de humor. Com isso, naturalmente, atraiu levas e levas de machos para o bar. Eu fiquei meio enciumado mas não podia fazer nada. Pior foi um médico que, todas as noites, aparecia às oito em ponto. Ela abandonava qualquer coisa que estivesse fazendo e passava longas horas conversando baixinho com o sujeito, que se chamava Cláudio.

Aí começou o zunzum das fofocas. Que a Penha tinha ido para o motel com fulano, que alguém pegara ela no carro com sicrano e por aí vai. Eu não duvidava que ela estivesse traindo o marido. Aliás, nunca dei muita bola para a questão dos chifres. Sempre achei que, se alguém sente atração por alguém e por este alguém é correspondido, o natural é que se envolvam, independentemente de compromissos tolos assinados em velhos papéis.

- mesmo sua namorada, você aceitaria isso?

- Ué? Claro que sim. Se ela encontrar alguém melhor que eu, boba seria ela se deixasse passar a oportunidade.

Mas aquela macharada hipócrita não pensava assim. Um belo sábado de aleluia, penduraram um Judas no poste ao lado da casa da Penha com o nome dos supostos amantes dela. Fiquei indignado. Até porque eu sabia que a minha Penha jamais iria par a cama com qualquer um daqueles barrigudos sem camisa e que bebiam pinga no balcão com os olhos fixos na bunda daquela bela mulher. Eu sentia ciúmes apenas do médico, sempre muito compenetrado em seu uniforme branco enquanto sorvia lentamente sua cerveja. Um autêntico pegador.

Aí o escândalo. Penha fugira com o médico. Fiquei arrasado. Ele abandonara a esposa e os dois filhos para ficar com ela. Jamais a minha vida seria a mesma sem as risadas e os tira-gostos de Penha. O marido tornou-se alcoólatra e amancebou-se com a empregada feiosa. Lembro-me da cena em que Penha voltou ao bar para pegar as coisas dela.

- não vou querer nada, pode ficar com tudo para você. Só vou levar o carro.

Antes de ir embora, ainda virou-se sarcástica para a empregada feiosa, que ela sabia que agora estava com seu ex-marido:

- e então? Este trouxa já aprendeu a trepar?

Passaram-se cerca de seis meses antes que eu visse a Penha novamente. Um belo dia, eu resolvi passear por um canto da praia que eu não costumava freqüentar normalmente. Passei em frente a um quiosque e lá estava ela, de biquíni pequenino, banhando-se com uma mangueira debaixo de um forte sol. Tingira de louro os cabelos, que antes eram castanhos.

- Jiminho!!!

Ela comprara aquele quiosque junto com a Marlene, uma outra que também largara o marido e filhos para fugir com outro homem. A Penha fez escola no bairro. Houve uma epidemia de chifres no tempo em que ela vivera lá. Eu soube de pelo menos umas quatro que cornearam os maridos sob a influência dela. Qualquer dia conto sobre este caso.

- Penhoca, uma cervejinha como nos velhos tempos. Oi Marlene!

Penha estava linda, como sempre. Sentou-se na mesa comigo. Papo vai, papo vem, não contive minha curiosidade:

- E o Cláudio?

Ela deu um sorriso irônico antes de responder:

- ah, coitado!

Então eu fui mais ousado:

- Penha, eu tô doido para pegar uma loura. Você topa?

- Claro, né, Jiminho? mas tem que ser agora!!

- Agora agora?

- Agora agora agora...

- Bom, então deixa para outro dia...

- Nó, que homem frouxo...

E caímos na gargalhada. Eu amava Penha, mas nunca me imaginara seu amante. Dizem que é impossível amizade entre um homem e uma bela mulher. Mas ali havia um desmentido. E não apenas porque eu fosse frouxo. Muita gente achava que tínhamos um caso. Minha namorada morria de ciúmes.

- se eu te pegar com aquela vagabunda eu te mato!!

Mas nada tínhamos além de amizade. Uma vez cheguei a perguntar a ela:

- Penha, dizem que você é ninfomaníaca. É verdade?

- Bom, Jiminho, não é bem assim. Eu só gosto de transar todos os dias...

- Eu também!!

- Bom, eu gosto de umazinha logo depois que acordo. Depois do café mais umazinha. Outra às dez. uma antes do almoço. Outra depois do almoço. Uma durante a sessão da tarde, e...

- Pára que já estou cansado!!

E novamente a gargalhada. Ela falou que me esperaria o tempo que eu quisesse. Aí marcamos uma corrida na praia todas as manhãs. Eu a pegaria na casa dela de carro. Na primeira manhã que fomos, minha namorada apareceu lá e quase bateu na minha doce amiga. Alguém vira Penha em meu veículo e me alcaguetara. Sacanagem...

- eu te mato, sua desgraçada!

Bom, tive que me afastar da Penha. Alguns anos depois encontrei o Almeida, um crioulo simpático, colega de trabalho, que me viu em um bar.

- olá Jimii. Conhece minha nova namorada?

Era ela. Estava dentro do carro dele ouvindo música. Mandou um beijo para mim e acenou, sorrindo.

- vocês já se conhecem?

- Somos amigos, nada mais.

Eu sabia que o Almeida era casado e tinha três filhos. Portanto, a Penha continuava a sua sina de destruidora de lares. Mas creio que com este ela se acertou. Quatro anos depois, comprei um jornal e li uma matéria que falava sobre casais que se diziam felizes. E eles estavam lá abraçadinhos. Diziam que o segredo de estarem sempre bem era o de dançarem todas as manhãs. Fiquei contente e pedi outra cerveja.