Anúncio de débito

Circular

Até os trinta anos nunca deveu nada a ninguém. No Rio de Janeiro trabalhou no Mac Donald para ganhar a vida. Chegou a carregar mala num hotel de quatro estrelas em Copacabana. De volta ao Rio Grande do Sul atuou na imprensa e foi sobrevivendo. No extinto Diário do Sul foi alimentado pelos amigos na breve passagem pelo setor de marketing. (A Cidinha G. que me perdoe, mas quem espalhava a existência de um equívoco editorial, dizendo que o jornal quebraria, claramente, feito para quem lia William Shakespeare no original, era ele). Um pouco antes começou a desenhar e escrever no Pasquim Sul. Aos poucos os jornais do sul foram fechando, quebrando, saindo brutalmente de circulação. Atrás dele ficava apenas o exclusivo jornalão. O dono de todas as opiniões e conceitos. O melhor era retornar para o interior. Retornar da capital para o provinciano atraso municipal e assim receber na cara a comum acusação de incompetência. Espécie de condenação ao exílio, muito embora acreditasse no Extremo Sul como um excelente ambiente para desenvolvimento da mídia nacional. Um lugar ignorado até pouco tempo, antes do advento da Internet*. Espécie de ampliação de mercado: do extremo sul para o restante do país das magníficas dimensões continentais. Já desempregado no interior resolve criar o próprio negócio. Abriria um jornal. Até aí tudo bem caso não cometesse a loucura de procurar o Fundo de Amparo ao Trabalhador. Jamais seria citado como alguém sozinho que tentara abrir uma empresa para impressão de jornais, livros e revistas. Na garagem montou uma permissionária dos correios para distribuição via postal dos exemplares. A queda foi em 30% de arrecadação em cada estampilha de 0, 22 centavos investidos antecipadamente. Acordou do sonho juvenil sem saber o que fazer. Logo os sete mil reais do fundo fiduciário o levariam à breca. Seu primeiro negócio estava arruinado na origem. Em torno dele circulavam órgãos que defendiam o empreendedorismo, mas na área da imprensa nada havia além de escárnio e cinismo. Um belo dia, sequer se encontrava em casa, um oficial de justiça levou os bens adquiridos (pouca coisa na verdade o básico para o funcionamento de um correio) seguido de escolta militar. Quando retornou da faculdade onde cursava Licenciatura Plena em História nada mais havia. Apenas tristeza e desolação. Procurou um advogado diante das intimações. Teria se defendido sozinho com mais honradez. Um sujeito novo na cidade substabeleceu a causa jamais comparecendo a qualquer defesa. E o processo passou de mão em mão indo parar até mesmo no município vizinho (Chui), indo e vindo sem que ninguém demonstrasse qualquer interesse real sobre o que julgavam uma causa perdida. Contador da Caixa é como contador de cyber café, segue contando o número... Independente da realização ou não da tarefa executada. Os valores de sete mil reais e alguns trocados estão ainda hoje em “quinhentos mil reais” para fins de imposto de renda de ônus reais (!?). O que fazer?

Com algumas mudanças na Lei de Imprensa acredita ainda que seja uma espécie de pioneiro arruinado da iniciativa para desenvolvimento da cultura e informação. (Risos) Observa com pesar o abismo que existe entre imprensa e capacidade de impressão, facilmente distorcida no tocante a liberdade das idéias. Ah! Presidente, como o judiciário é estranho, pensou, solta homicidas por “erro técnico”, mas é implacável com aqueles que devem sobre o zelo subdesenvolvido dos juros sobre juros na terra da especulação desordenada. Na terra do direito sobre as dificuldades vive a negação sádica da espoliação. Na verdade estimo esse homem na frente do espelho em sua ação prática contra o desemprego. Estimo como um libelo a liberdade de imprensa e impressão. Um homem que não sabe o que dizer a si mesmo, nem para onde ir...

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*Somos um município com mídia virtual, porém sem marketing.