Uma informação, por favor?
“Uma informação, por favor?”
Passeio matinal de domingo. Nem bem atravesso a rua, um carro pára ao meu lado e o sujeito ao lado pergunta-me:
- Onde é o Zoológico?
- É só virar a direita nesta pracinha e ir reto até o fim. Depois segue contornando a Alameda das Rosas, essa rua com a pista de cooper. Depois do sinal fica à esquerda. Já estaciona logo, porque hoje é cheio.
Devo ter uma cara de imensa credibilidade. Fico impressionado com o quanto que as pessoas me abordam. Será que é minha postura de quem está “de boa”?
- Oi, por favor. Onde é o colégio Delta?
- Fica logo ali, é só seguir reto e virar naquela palmeira grandona. Tá vendo?
- É porque tem o vestibular e já está quase na hora. É na rua “R” ...
- A rua eu não sei, mas o colégio é lá. Certeza.
Cortei a fala do sujeito. O mais engraçado é que quem pergunta sempre é o passageiro, e depois ele vai explicar para o motorista. Sigo meu caminho.
- Doutor? Pode-me dizer onde é o Adress West Side? O apart hotel? Eu sei que fica na República do Líbano.
- Sei, sim. Sobe a primeira a direita. E depois tem um sinaleiro. Como você está de moto, o garupa põe a mão na placa e vira à E. Não tem erro. Segue reto até a Praça Tamandaré, que é aquela enorme. Vira a direita e vai até perto de uma pracinha, o Apart é um que fica a direita, só tem ele. Eu adoro lá.
Poxa, doutor? E eu de bermuda e camiseta cavada lá tenho cara de doutor? Essa foi boa. Nem mestrado fiz... Vai ver ele me achou com jeito de médico. E... acertou! Incrível. Será que nós não escondemos quem somos?
Sei que não fui politicamente correto ao mandar virar no sinal. Mas motoqueiro é custoso. Se eu não dissesse, ele ainda assim o faria. Vi o risinho maroto do condutor quando eu expliquei-lhe a “goianada”.
- Bom dia.
- Bom dia.
Esse é educado. Dentro do seu carro importado e tocando um belo blues. Espero a pergunta.
- O senhor poderia me informar onde é que fica a Associação Médica?
- Simples. Vire a direita e siga nesta avenida até o fim. Ela chama-se Avenida Portugal.
- Tem uma Jornada de Cirurgia Videolaparoscópica, você vai?
- Como é que você sabe?
- O seu boné.
Nossa! Estou com o boné do congresso! Essa foi boa... E eu elocubrando as assertivas das pessoas...
Deixo a Alameda das Rosas e sigo em direção a minha casa. Estou quase em frente ao hospital psiquiátrico. Uma família de origem humilde, pai, mãe e filho. Roupas engomadas. Sapatos engraxados. Mas o conjunto é amarfanhado.
- Ei? Cê sabe onde é a entrada?
- É na porta lateral. As visitas começam as oito.
- Muito obrigado. Deus te abençoe.
- Amém.
Vou seguindo o meu caminho e de longe vejo uma corredora. É pequena, pernas fortes. Destaque para as panturrilhas bem definidas. Ela vem num bom ritmo de 5 minutos por quilômetro. Não me lembro dela nas competições. Mas já são dois anos sem correr. Sinto saudades do suor queimando minha barba feita de navalha, bem cedinho. Ela se aproxima. Seu rosto é bem jovem. Daquelas mulheres que podem ter 18 ou 38. Eternas.
- Olá amigo.
- Olá, booooooom diiiia.
Fiz gracinha, mas rapidamente me recompus. Ela arfava. Estava cansada e provavelmente a informação que desejava deveria ser muito importante. Para ter que parar o seu treinamento e seu ritmo tão legal.
- Onde eu acho o meu amor?
- O quê?
Calmamente ela repetiu a frase, olhando-me com ternura e ao mesmo tempo real interesse.
- Ah, minha amiga. Esse destino eu não sei explicar. Por que você não pergunta a si mesma?
JB Alencastro