Até o Último Sopro de Amor
Era um último sopro de vida.
Parecia sentir-se no meio e no fundo de um oceano gélido.
Tinha como último desejo naqueles instantes ferozes, a calmaria e a intensidade do beijo apaixonado do seu único amor.
Era como se buscasse desvendar o sorriso enigmático da Monalisa, e ao mesmo tempo revelar a insensatez angustiante de Picasso.
E seu peito pulsava descompassado, o sangue quente desvelava seu sono nos braços acolhedores de Morpheu.
Não temia mais a fúria da tempestade daquela paixão que de braços dados com o amor, abraçava-o com a coragem dos fortes.
Todas as cenas que viveu com ela, passavam em sua mente como um flashback fatídico. Ela distante em seu quarto, preparava-se para encontra-lo, perfumava-se.
A paixão queimava ardente em seus corações. A inércia dos sentidos de outrora, batera em retirada. A moça apática de antes, era algo do passado triste pela falta do amor, que agora brotava em seu peito.
Eram dois mundos diferentes.
O medo do novo invadia sua alma, ecoando um alento descadenciado.
Ela era uma deusa em forma de mulher, ele um simples mortal apaixonado.
Contudo desejava-a mais que tudo nessa vida. E não temia a hostilidade do mundo que ela vivia.
Lembrava que ao sentar-se no lago todas as tardes como de costume, via refletido nas águas o rosto daquela mulher por quem dedicava seus íntimos pensamentos, como também nas nuvens do céu, que brincavam entre si, o rosto daquela mulher ali estava.
Chorar era inevitável.
E mesmo em mundos tão diferentes, quando se encontravam se amavam intensamente, seus olhos tocavam em suas almas, suas bocas sentiam delicadas sensações, e nenhuma palavra era necessária, e no silêncio de ambos travavam emocionadas e encantadoras declarações de amor, eterno.
Promessas nesse amor proibido. Promessas no meio das lágrimas de amor. Quem sabe um milagre? Um remédio para a dor latente.
Era um amor lindo, como eu jamais havia visto, ou até descrito; tão lindo como o amanhecer de um novo dia, onde a luz se sobrepunha à escuridão, onde a luz dá a força.
Traziam dentro de si um misto de inconformismo e um sonho: viver esse amor ao máximo que podiam.
Eis que o viveram até o último sopro.
Até o último beijo.
Até a última promessa: um dia estarem juntos, por inteiro.
Então no último suspiro do qual falo no começo desse texto, a vida dele se esvai no sangue derramado por um projétil quente e doloroso alvejado por seu algoz: o marido daquela deusa em forma de mulher.
Ele sabia que ali não era o ponto final da história, por isso não deixou que o desespero o invadisse, e deitado no colo da sua amada, balbuciava palavras amorosas de consolo.
Sentia já distante as lágrimas quentes percorrendo sua face com um leve sorriso, e ela em desespero, deixava as lágrimas lavarem seu rosto e a alma dolorida.
Ouvia pela última vez aqueles lábios que tanto beijou pronunciar: eu te amo.
Era também a última vez que ela sorrira.
Eles se amaram até o último sopro de amor.