Sexo seguro
Entrei na farmácia meio desenxabido, olhando para os lados pra ver se não tinha nenhum conhecido.
Fui até seu Victorino, já de cabelos grisalhos, barriga saliente encostada no balcão. Era o farmacêutico prático mais sabido da cidade.
Tinha sempre uma palavra, um ensinamento, um carinho pra rapaziada igual a mim.
Quis enrolar um pouco o pedido e, assim meio que sem querer confessar, falei pra ele:
- To aí tomando umas aulas de português, pra ver se consigo acabar esse colegial.
Ele continuou olhando meus olhos, calado.
- É que, a professora é particular e ela dá aulas num puxadinho, nos fundos da casa dela, pra mim e pra outra moça.
Ele continuou olhando meus olhos, calado.
- Então, a gente tava pensando em ter certas intimidades, porque a moça que vai comigo, está com conjuntivite e não poderá ir essa semana toda.
Ele continuou olhando meus olhos, calado.
- Acontece que Clotilde é mais experiente que eu e já foi direta comigo.
-“Estou em dias férteis e sem camisinha, nada feito, não quero nem pensar em gravidez.”
Ele virou-se de costas, abriu uma gaveta, sacou um envelopinho preto, botou no balcão e bem ao contrário de muitos pais que evitam falar de sexo com os filhos, começou uma verdadeira aula de amor.
- Sabe usar? Cutucou minha ingenuidade.
- Não sei. Aliás, nunca usei.
- Abriu com carinho o envelope, tirou uma rodinha plástica toda lubrificada, esticou seu dedo médio e começou a aula, ali mesmo no balcão.
- Olhe, preste muita atenção, dizia.
 - Desenrole devagar pra não rasgar, ela é muito delicada.
Foi colocando no dedo médio, desenrolando com certa sensualidade, confesso.
Foi realmente uma aula providencial. Aprendi direitinho, agradeci, comprei mais 2 envelopinhos e saí feliz pra aula particular.
Clotilde estava linda, perfumada, acho que tinha lavado os cabelos, tinha feito chapinha, um vestidinho de flores, bem esvoaçante, uma professora e tanto pra um rapaz suando a bicas, 
trêmulo, ruim de português e carente de cama.
- Tudo bem? Tremi até o cadarço do tênis. Um calor subiu por todo meu corpo, quase me tirando o fôlego. A voz embargada, mãos trêmulas e suadas, geladas de emoção, falei:
- Trouxe três camisinhas.
Ela apagou a luz dizendo ser tímida, e também pra evitar que alguém viesse até nós, me puxou pra um abraço apertado.
Eu já não tinha mais pernas. Acho que em 10 segundos estava pelado e, num ato contínuo, rasguei o envelope com os dentes e vesti com muita pressa. Só lembrei do seu Victorino, dizendo: 
- Coloque a camisinha com ele bem duro.
Duas horas de milagres dos hormônios. Beija aqui, chupa ali, morde acolá, puxa pra frente, empurra pra trás, uma tourada de amor. Eu era um verdadeiro rato num queijo suíço.
Onde tinha buraco eu entrava e dava uma comidinha.
Até que, mesmo jovenzinho uma hora acabaram as energias. Clotilde já satisfeita, eu novamente com as pernas bambas, quis vestir as minhas roupas.
Fui até o interruptor peladão e clic acendi a luz.
Quando ouço um grito de pânico e desespero de Clotilde. Pensei: Chegou alguém.
Ela se levanta, dá mais um grito ensandecida de raiva, aponta pra minha mão e diz:
- Porque você está com essa merda de camisinha no dedo?
Nascia, naquele momento, a paternidade do meu primeiro filho.

Use sempre camisinha.(no lugar certo) Doe sangue.
 
 
 
 
 

Augusto Servano Rodrigues
Enviado por Augusto Servano Rodrigues em 02/03/2008
Reeditado em 02/03/2008
Código do texto: T883280
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