JÁ OUVIU FALAR EM RICARDO SALINAS?

(de Feira de Santana – Bahia) Ele se chama Ricardo Salinas, é mexicano, gosta de sossego, curte a vida sem muita badalação social; adora a companhia de mulheres lindas, mas raramente é visto ao lado de celebridades e possui uma conta bancária com um saldo positivo de R$ 20 bilhões.

Se a sua resposta relativa à pergunta de empréstimo de dinheiro a Salinas é sim, parabéns! O difícil será encontrá-lo disponível para captar recursos que não os seus próprios. O moço mexicano é o dono de uma monteira de empresas com sede principalmente no México, entre elas o Banco Azteca e a rede de lojas varejistas Elektra, uma espécie de Casas Bahia daquele país. Ainda são destaques entre as empresas deste jovem senhor, uma companhia seguradora que leva o mesmo nome do banco, um sólido gestor de recursos de fundos de pensão mexicano, uma rede de televisão com sede nos Estados Unidos, uma enorme empresa de telefonia celular e uma mega provedora de internet.

Se Salinas lhe tomasse por empréstimo uns R$ 100 hoje e aplicasse em ações de seu grupo, o Grupo Azteca, lhe devolveria no dia 31 de dezembro uns R$ 500,00, tirando é claro a sua (dele) taxa de administração e outras taxas que envolvem o mundo financeiro. Ricardo Salinas é sem sombra de dúvidas um dos mais bem sucedidos empresários das Américas; uma espécie de Midas daquelas bandas.

Mas porque eu estou falando de Ricardo Salinas, um super empresário mexicano que fez fortuna trabalhando muito e aproveitando os bons ventos que a vida lhe proporcionou? É simples e rápido: Salinas esteve várias vezes interessado em empurrar seu império para baixo da Linha do Equador, mas precisamente no Brasil. Na década de 90, ele quis entrar aqui comprando a rede de lojas da quase falida Ponto Frio, mas os negócios não avançaram e a entrada de personalidades como Pedro Malan e Roberto Britto nas lojas ligadas ao Grupo Safra, acabaram de vez com as especulações e Salinas resolveu dar um tempo.

Este ano a imprensa mundial, sobretudo os que escrevem sobre dinheiro e negócios, afirmam que o Grupo Azteca pousará em Terras Tupuniquins em breve e deverá fazer um estrago fenomenal. Fala-se em que aportará através do Nordeste uma teia de lojas de eletrodomésticos e que antes de 2010 a Elektra estará presente nos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal, além do mais, para ajudar os pobres e delicados tomadores brasileiros, o Banco Azteca também chegará como banco de investimentos, tipo estes que emprestam dinheiro para idosos e financiam carros em 1000 prestações sem entrada.

Uma vez chegando à loja de eletrodomésticos e o banco, com certeza virão também a seguradora e a experiente gerente do dinheiro de pensionistas; se elas são sucessos na América do Norte, nós, néscios por nascimento e desenvolvimento, não só acreditaremos na marca, como consumiremos deliberadamente todos os seus produtos e daí, para que deixem o caminho livre para as outras empresas do grupo, como a de telefonia celular e internet, será uma questão de tempo.

O conglomerado de Ricardo Salinas está divido entre três grandes grupos; Salinas, Elektra e o Banco Azteca; cada uma destas marcas possui uma gestão própria, com interesses e ações metodicamente supervisionadas pelo próprio dono de tudo. Quando eu estive no México, conheci por lá muitos hotéis, empresas de ônibus e uma companhia aérea pertencem a Salinas; todas em nomes de pessoas amigas e correligionárias de seu partido de negócios. Embora a sua pessoa possua muito prestígio entre os mexicanos mais pobres, os políticos nunca viram o milionário com bons olhos, tudo por que ele aplica boa parte de seus lucros em paraísos fiscais, livres de impostos e dos “olhos gordos”, ou ainda em sólidos nichos mobiliários de oportunismo, nos Estados Unidos.

O negócio é simples para quem tem muita grana. Pessoas compraram milhares de imóveis durante um suposto aquecimento do mercado interno e meses depois, descobrem que os juros e a hipótese de crise não possibilitariam uma realidade de pagamento. As leis estadunidenses são rígidas e punem severamente o caloteiro; a única saída é entregar os imóveis para que eles entrem nos pregões de leilões que normalmente são re-comprados por menos da metade do preço venal; resultado, Ricardo Salinas entra em cena e compra apenas aquilo que é de fato volátil; uma espécie de abutre que dá ao indivíduo falido o golpe de misericórdia. Atos como este ajuda inclusive os bancos a salvarem parte de seus péssimos investimentos. É aquela velha história: vender, nem sempre é a solução; é preciso vender bem para se ter o lucro almejado.

No Brasil, as redes de eletrodomésticos atualmente vivem o ápice da briga interna; até pouquíssimo tempo, Ponto Frio, Casas Bahia, Magazine Luiza e Colombo, mandavam de Minas Gerais para baixo do mapa brasileiro; Insinuante e Arapuá, chegavam da Bahia para cima do mapa, mas uma manobra ousada mudou tudo desde 2005. Os territórios que antes eram disputados como se fossem próprios sofreram invasões e viram surgir novos nomes como Ricardo Eletro do novo rico mineiro Ricardo Nunes e aos poucos, o surgimento de novos nomes como Fast Shop. As principais lojas brasileiras já somam mais de mil lojas e a voracidade mercadológica é tão grande que Ricardo Salinas resolveu introduzir aos poucos a gigante Elektra para apimentar ainda mais esta briga de milhões de dólares.

Por um lado, o consumidor se esbalda com tantas promoções e vêem todos os dias os preços do que era artigo de luxo até pouco tempo atrás, como as famosas TVs de LCD, despencarem, chegando bem próximo da banalização. Há cerca de cinco anos apenas, uma TV de plasma custava R$ 10 mil; hoje, uma LCD de tamanho similar, muito melhor e mais avançada, sai por R$ 2 mil, divididos em 10 parcelas iguais sem juros; isso é a lei da oferta e da procura associado à quebra de monopólios. Eu creio que depois da Elektra, muita coisa ainda vai mudar no mercado brasileiro e o que ainda é proibido para o bolso de muita gente, pode ficar acessível e comum.

O fato de Ricardo Salinas ter escolhido o Brasil como seu mais novo reduto de ganhar muito dinheiro, pode significar em primeiro momento uma nova oportunidade de emprego e renda para milhares de brasileiro; pode também significar o equilíbrio ainda maior do controle de preços do mercado de geladeiras, televisores e computadores, mas isso é apenas uma visão micro; com a instalação em primeiro momento de uma empresa de Salinas no Brasil, por uma visão macro, irá fomentar o mercado imobiliário, primeiramente no que diz respeito a serviços e trazer uma soma incalculável de novos investimentos de capitais estrangeiros, o que em tese é bom para a sobrevivência da moeda interna que deve se manter forte.

O possível lado negativo pode estar estacionado na tese de experiência do moço bilionário que conhece o mercado mexicano, pobre e vulnerável e o americano, rico e policiado; Ricardo Salinas ainda não conhece o meio termo e o Brasil será o seu fiel da balança; incógnito e bonachão. Eu nunca vi uma mente privilegiada que detém o poder da fortuna, usar recursos próprios; qualquer um milionário investidor usa dinheiro alheio para ganhar seu dinheiro e é aí que pode morar o perigo; traduzindo: nem sempre o que reluz é ouro!

Uma coisa é certa: neste mercado que Salinas pretende iniciar sua brincadeira no Brasil, somente os enormes conseguem vender; nos últimos cinco anos, os pequenos ou morreram ou foram vendidos a preço de banana e a Elektra chegará, com certeza como a maior de todas, a mais forte e a mais rica; os que pensam e ainda possuem algum amor pelo Brasil esperam apenas que esta chegada some pontos para que o país consiga consolidar sua estampa de emergente perante os mercados sólidos, afinal de contas, ainda vivemos um momento de pura “miragem”; estamos sempre vendo o Oásis, ainda temos um pouco de água no cantil, mas ainda estamos longe de chegarmos nele.

Walt Disney veio ao Brasil e ficou tão encantado com a terra que criou um personagem tipicamente brasileiro, o Zé Carioca, acreditando que ele faria par eterno com seus outros personagens famosos. O papagaio engraçado e malandro ficou somente famoso aqui e hoje, 80% das crianças brasileiras sequer conhecem o bichinho de criação célebre. Eu espero que a história não se repita com Ricardo Salinas e suas marcas mexicanas. Eu jamais diria “Viva Zapata”, mas desejo sorte aos novos descobridores do Brasil.

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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