Um passeio de carro
Edson Gonçalves Ferreira
Naquele dia, Pedrinho levantou todo feliz. Não sabia o porquê. Nem tinha conversado com sua mãe e com sua irmã que, depois do café, convidaram-no para acompanhá-las num passeio. Iriam fazer compras. Ele nunca tinha escutado, na inocência de sua idade, a letra da música de Ivan Lins, “Para nossos filhos” onde, num verso, o poeta diz: “Perdoem por tantos perigos...” E, assim, logo que acabaram o café, saíram felizes para um longo passeio.
Usaram o carro da família que, de luxuoso quase ou nada tinha, mas que era um bom carro e, felizes, sorridentes, partiram em direção ao shopping onde sua mãe havia programado fazer algumas compras. O Rio de Janeiro estava lindo. O Sol beijava com ternura as ondas do mar, fazendo com que eles se lembrassem da música de Lulu Santos: “Garoto, eu vou pra Califórnia, viver a vida sobre as ondas, vou ser artista de cinema, o meu destino é ser star”.
Sua mãe, que sempre dirigia o carro, ia tranqüila, mantendo os vidros e as trancas das portas do carro fechado, porque ela sabia de quão passageira são as coisas e do quanto perigoso é a Cidade que continua Maravilhosa apesar da violência. Não pensava, contudo, em nada de ruim até que, de repente, quatro jovens cercaram o carro, num cruzamento.Tudo foi tão rápido que nem parecia estar acontecendo. Pedrinho estava estonteado com o susto.
Os bandidos arrancaram para fora do carro a mãe e a irmã de Pedrinho com a maior das brutalidades e, depois, tomaram o carro enquanto, desesperado, ele tentava também sair, mas ficara preso ao cinto de segurança. A mãe e a irmã e as pessoas que viam a cena gritavam. “Amar o perdido, torna insensível esse coração...”, escreveu Drummond. Os bandidos deram partida e Pedrinho foi brutalmente arrastado pelas ruas que ficaram molhadas por seu sangue.
O mais contundente de tudo, além da violência brutal é a total falta de sensibilidade dos bandidos que, segundo noticiários, são jovens e deviam ter a alma menos calejada que nós, adultos que, embora saibamos da violência que existe no mundo, ainda choramos, porque não acreditamos mais em quase nada dos que os meios de comunicação dizem. Sim, porque, como Elis Regina cantou: “Quantas vezes se leu, só nesta semana, esta história assim contada por cima: a verdade não rima, a verdade não rima”.
Talvez seja por isso que, hoje, incrédulo, às 2 horas da manhã, escrevo esta crônica que ilustrará, também, uma aula de redação, ciente de que minhas palavras somarão a outras mais importantes que gritam por uma sociedade mais justa no Brasil e no mundo. Enquanto isso, “Chora a nossa pátria, mãe gentil, choram Marias e Clarisses e no solo do Brasil...”
Divinópolis - 2007