O prefeito que apedrejava!
A banda da cidadezinha do interior, também conhecida com furiosa, já ensaiava os primeiros acordes. Acordando em festiva alvorada os moradores vizinhos daquela praça! Até as pessoas que ainda dormiam como pedras foram jogadas para fora; era o dia de inaugurar o calçamento com paralelepípedos nas ruas que circundavam o logradouro, e como explicou o tesoureiro da prefeitura: “Feito com sacrifício, dinheiro dos cofres e muito logro”. Sua excelência o senhor prefeito e a segunda-dama, pois da primeira ele havia se separado semanas antes, optaram pra ir ao local da festa caminhando pelo centro da cidade acenado para uns e prometendo para outros. O motorista foi na frente conduzindo o “Cross Fox” zerinho e pretinho com chapa branca, comprado para serviços exclusivos e eventuais do gabinete.
Uma grande festa com refrigerantes e salgadinhos, para o povo que comparecesse ao ato “inauguratário”, como viria a dizer o chefe do executivo, já havia sido providenciado em baixo de um grande pálio onde o padre convidado a dar a benção, se deliciaria com as mães-bentas preparadas por uma protestante que, sendo oposição a essas solenidades, era a única da cidade a conhecer o melhor alimento. Sentados nos bancos, também recentemente inaugurados: Um vereador que da roça veio no caminhão de leite, portando chegando mais cedo; Também havia meia dúzia de guardas municipais, e três PMs, todo o efetivo da cidade; E fazendo fotos e anotando dados, estava o jornalista de uma cidade maior, com vistoso colete escrito “Imprensa”. Ah! Não podemos esquecer dos garis, mulheres e homens. Ainda com garoa da madrugada chegaram os garis. O “asfalto de pedra”, como também viria a dizer o prefeito, estava brilhando!
Os vereadores, o gerente do banco, os correligionários e os puxa-sacos já tomavam as suas posições no palanque, que por prevenção havia sido reforçado por baixo, O locutor já gritava: “Atenção senhoras e senhores, daqui a pouco o maior prefeito da região”. Parece que não conhecia, e que nem nunca prestara um serviço idêntico na região. O “grande” prefeito tinha só 1:65 metros de altura! Em um palanquinho anexo agora abrigava a furiosa, que ali exprimida quase cria uma situação “vexamosa”, como diria o secretário de cultura, quando o músico do trombone tocou com a vara atrás do rapaz tocava tambor. O público ali presente para prestigiar a inauguração e o jornalista a documentar, a maioria funcionários da prefeitura, que não queria ter cortado ponto, só pensavam no lanche!
Enfim o grande momento, o “preifeitãozinho”, como disse o locutor criando um neologismo para prefeito grande e pequenino ao mesmo tempo, foi anunciado: “Ele está visitando primeiramente as obras, com defeito ou sem defeito ele vai estar aqui”. Na verdade estava fazendo hora para encher mais, a frente do “parlatório”, como ao palanque se referiu o padre ali presente! Foi então que ao pisar em uma das ruas agora calçada, antes de barro e cheia de buracos, a comitiva do prefeito por pouco não foi atropelada por um carro, dirigido por um filinho de papai. A segunda-dama, refeita do susto se vira e diz: “Ta vendo, eu falei que ocê ia perigosar a rua”, o prefeito feliz com o foguetório, respondeu: “Que nada muié. Eu só fiz foi apedrejar!”