Fagundes e... fagundinhos
FAGUNDES e... fagundinhos
Dando uma espiada nos pequenos noticiários do jornal, li algo pouco usual de acontecer, contudo abriu-me o apetite de estoriar o acontecido. Numa cidade à oeste de São Paulo, uma empresa empregava a Srta. Cremilda (nome postiço) em suas amplas dependências da administração. O pavimento que alojava seu departamento exibia o layout de gabinetes individualizados. Você sabe, aqueles nichos que dispõe de uma pequena bancada, tapumado nas laterais e os fundos com vento a favor. Pois bem, o Sr. Silveira era o responsável por todas aquelas sessenta almas ali estabelecidas. Apesar da concepção moderna do projeto, mais parecia uma colméia barulhenta. Naquele burburinho de fulano chama cicrana, impressoras que martelam o dia inteiro, telefones que insistem em suas campainhas, a Srta. Cremilda secretariava todo o departamento e cuidava para que a refrigeração do ambiente fosse adequada.
Já de algum tempo, seus colegas de serviço reclamavam entre si de um fedor que bailava durante o expediente. Não em tempo integral, mas freqüentemente. Parecia enxofre, mas não era bem isso. De repente, o ar ficava, denso, pesado, parecendo aquelas nuvens escuras que ocorrem no verão. Assim, os dias se passavam e nada de sumir o tal cheiro, que por vezes levantava a suspeição de que algum companheiro estivesse podre. Ninguém se dava conta do que acontecia. E, a dona Cremilda instalada estrategicamente no centro do escritório a tudo olhava e conferia. Se, alguma janela estivesse entreaberta, mandava imediatamente fechá-la, para que não comprometesse a performance do ar condicionado. A situação estava ficando insuportável, a ponto de acusações mútuas serem explicitas... foi você, não foi? E, com isso o ambiente foi-se deteriorando até que chamaram o Sr. Silveira para que sentisse a exausta poluição que educadamente classificavam como aerofagia anal, visto que as dependências tinham sido recém dedetizadas.
Constatação procedida há que se descobrir o emissor de tais gases cediços. Foi então, democraticamente constituído um grupo investigativo para descobrir o degenerado ou a fedorenta colega. Após intensa e disciplinada varredura realizada pelos narizes mais sensíveis, chegou-se à conclusão que a causadora do mal-estar era a Srta. Cremilda que soltava os Fagundes e fagundinhos baixinhos, repetidos como traques e de mortais efeitos.
Para alivio geral, a gerência da empresa houve por bem dispensar os serviços daquela bazuca de gás letal.
Decorridos alguns meses e livres da flatulência incontida da ex-colega, seus companheiros ainda comemoravam o êxito da heróica batalha contra o peido mortal quando no dia seguinte o Tribunal Regional do Trabalho decidiu pela readmissão da Srta. Cremilda, que vingada do constrangimento sofrido exclamou: “Colegas os Fagundes e fagundinhos voltaram”.
Ah! Não, vai começar tudo outra vez.
paulo costa