PEDINDO A "SAIDEIRA"

Muitos se perguntam qual e o mistério daquele reduto simples, que chamamos de um bar qualquer, mas que reúne pessoas que ficam horas e horas conversando e degustando uma boa cerveja.

Um dia desses procurando site criativos que expressassem a grandeza das palavras, acabei encontrando uma crônica de uma grande escritor carioca que descrevia um reduto dessa natureza, onde ele narrava a simplicidade do lugar; que geralmente são cubículos que se estabelecem em grandes centros, mas que pela sua singeleza acabam se tornando um local de encontro dos amigos, sejam eles trabalhadores comuns ou até grandes personalidades ou até celebridades que procuram uma boa conversa, para disparecer ou para sair da rotina do trabalho e acabam sendo atraídos por um encanto desconhecido e misterioso que os levam a se perguntar qual a razão de gostar daquele lugar que seria desprezível sob o ponto de vista estético?

No fundo todos sabem que não é o lugar que cativa as pessoas, mas sim o ensejo para se encontrar com colegas de mesma convicção ou de mesmos propósitos, pois ali podem ficar à vontade e relaxar, esquecendo-se que no ambiente de trabalho existe o protocolo do formalismo que muitas vezes é necessário, mas cansa, já que é no trabalho que a maioria das pessoas passam a maior parte do tempo nos dias úteis.

Assim, não é apenas aquele barzinho inexpressivo que pode ser o lugar ideal para se jogar conversa fora, pois isso pode ocorrer em seu própria casa numa reunião festiva, num clube, num calçadão, numa pescaria, etc.etc. O que importa disso tudo é que nesses momentos é que as pessoas estão mais disponíveis para expor-se e sobressair-se no que diz respeito aos seus eternos recalques, considerando que a própria timidez inibe a ação do indivíduo, que muitas vezes – mesmo tendo uma boa capacidade para expor suas idéias – acaba encontrando dificuldades de toda ordem, quando vem aquele nó na garganta ou quando surge aquela lacuna na mente nos fazendo esquecer de coisas que temos o domínio.

Por essa razão é que considero essencial a nossa vida social. Nem tanto aquela regada por protocolos e rituais de formalidade como o cerimonial de casamentos e outros eventos sociais que exigem um comportamento aristocrático. Prefiro as reuniões informais, por isso muitos executivos depois que saem do expediente normal, procuram barezinhos simplórios à beira dos calçadões, porque ali podem afrouxar a gravata, podem tirar o paletó e até desabotoar a camisa, para uma melhor ventilação no tórax. Só esse gesto já é capaz de tirar-lhe um sorriso do rosto, em que pesem todos os percalços da rotina do trabalho que muitas vezes levam ao estresse.

Eu, particularmente, prefiro freqüentar um lugar dessa natureza depois de um jogo de futebol. Não preciso estar com uma roupa adequada e esse ambiente de descontração nos obriga a falar das coisas sem compromisso. Daí surgem as chacotas, a lembrança daquela jogada mais pitoresca ou até aquele lance do gol da vitória. Nesse instante, qualquer assunto é suscitado e desenvolvido com grande intensidade. Quando o grupo é formado por pessoas de boa índole e a amizade é o único ingrediente daquela reunião, todos os assuntos florescem com muita ênfase e certamente ultrapassam a hora previamente adotada como o momento próprio de ir para casa.

Não há dúvida de que é a boa conversa que dilata esse prazo porque sempre há aquele colega que motiva o adiamento da hora de ir embora, pedindo a conhecida “saideira”, que na verdade nem sempre é a conclusiva, porque é a motivadora do “fica mais um pouco”.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 29/02/2008
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