Grande e miúdo não dão certo!
Era um jovem que se sentia desprezado desde que nasceu em um hospital público na Bahia! Recém-nascido, ainda no berçário, observava que na enfermaria em que lhe puseram para aguardar a alta de sua mãe, não tnha ar condicionado e lá havia uma dezena de leitos que deveriam ser branquinhos, mas estavam expondo as ferragens enferrujadas. Ali estavam meia dúzia de crianças também a espera das mães! Sentia falta de atenção, e pensava que quando aprendesse a falar teria que ser grevista, exigir seus direitos, uma vez que ainda no hospital, só ganhava a mamadeira depois de chorar bastante. A enfermeira, para ele ela estaria fingindo carinho quando fez bilú-bilú no seu pintinho, enquanto lhe trocava as fraldas cheias de côcô. Ele não lhe tirava os olhos, e perguntava em pensamento: “Que prazer ela tem de fazer isto?”.
Realmente, quem trabalha trocando fraldas de côcô, de diferentes consistências, tonalidades e cheiros; creio que dificilmente será prazerosa no trabalho, por isto deveriam ser bem remuneradas. O neném de um dia, mas parecendo um senhor observador, atiçou o olhar por cima dos óculos, do médico que ali estava. Observou com desconfiança aquele homem que confundiu com um pai de santo, colocar seu tórax miúdo o auscultador. Para o pequenino era um aparelho estranho, portanto, pensava ele, deveriam ter-lhe explicado que seria para ouvir seu pequenino pulmão, ele teria se esforçado para fazer um barulho parecido com trinta três! Ele só pedia a Deus que algum juiz lhe desse um habeas-corpus e lhe tirasse daquela calorenta prisão!
Enfim o dia amanheceu e para ele a noite foi uma eternidade, e a mamãe que ele até então só conhecia por dentro, deveria aparecer e exclamar: “Meu rebento, meu filho lindo!” E de imediato ouviu passos de meia dúzia de mulheres que chegavam uma a uma procurando suas crias. Entrou uma loira que ele se encantou, queria para ela erguer os braços, mas ela passou indiferente e direto. O mesmo aconteceu com uma morena tão bonita que parecia ter saído de um desfile de escola de samba, e ele pensativo como será ela? Estava como namorado que marcou o primeiro encontro por telefone. Enfim entrou uma senhora dos seus cinqüenta anos, carcomida pela vida dura de lavadeira, leu seu nome na fitinha colocada no braço do neném, que já a olhava desconfiado, e grita: “Meu temporão”. O pequeno chorou alto, a enfermeira o trouxe água na mamadeirinha, mas ele não quiz. Chorou porque se sentia um patinho feio, de mãe feia também!
Cresceu sem jogar futebol, na escola sentava na última carteira, nunca conseguiu vender nada, nem amendoim no Elevador Lacerda. Nunca consegui mostrar a sua imagem de romântico para alguma namorada. Ele vivia com ela na mão fazendo as cinco etapas de pedidos dos adolescentes; um sonho, uma realidade, um buquê de flores, um sim, e um “até que a morte os separe”! Não era chegado a farras, extremamente caseiro resolveu comprar um computador, em alguma promoção das lojas soteropolitanas. Na capital baiana morava em um bairro. A máquina foi instalada e conectada a um provedor de Internet. Teclava com vigor e com coragem virtual, mais do que presencial. Localizou a mulher de seus sonhos. Um dia, depois de meses teclando, ele a ela perguntou: “Onde você mora?” Ela responde que em Campina Grande, e pediu igual resposta. Ele feliz responde: “Pau Miúdo!”. Foi excluído do MSN!
A jovem paraibana deve ter imaginado: “Eu de Campina Grande ele de Pau Miúdo, não vai dar certo!”
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Pau Miúdo é um bairro de subúrbio da Cidade do Salvador, capital da Bahia.