"Voyeur Rural" ou "Amor Filial" =Crônica=
Raimundo ouve o badalar do sino ao longe e, reflexo condicionado, sua boca se enche d’ água. É a patroa chamando todos para o almoço. Dispara ladeira abaixo sabendo que se chegar logo ainda conseguirá ver a filha da patroa tomando banho, bastando para isso meter o olho no buraquinho da casa de madeira.
- Lá vou eu ver aquela bunda branca maraviosa de novo...Ô muié gostosa da peste aquela brancona linda. Acho que ela sabe que eu óio ela e fica si inzibindo toda. Demora lavando as parte e me deixa doidão da sirva. Cada peito que vô te contá...
Alguns metros antes da casa ele começa a andar devagar para controlar a respiração. Não quer ficar bufando enquanto olha a filha da patroa pelo providencial buraquinho na madeira da residência.
Respiração normalizada, encosta o rosto, fecha um dos olhos e mete o outro no orifício.
- Ué, cadê ela? Num tomou banho hoje? Sumiu de adirrepente...
Alguém bateu levemente em seu ombro e Raimundo deu um pulo, tal foi seu susto.
- Então é você, cabra safado, que andava olhando minha mulher pelo tal buraquinho no banheiro...Muito bom. Muito bonito isso. Olhando mulher dos outros na maior cara dura. Tá fodido e mal pago. Vou mandar furar seus olhos, baianinho tarado dos infernos.
- Patrãozinho, pelo amor de Deus, eu nunca que faria uma coisa dessas. Só queria oiá se o banheiro tava desocupado.
- Boa explicação. Seria uma boa explicação se você pudesse ao menos chegar perto desse banheiro, que é só para o nosso uso.
- Patrõzinho, eu juro por tudo que há de mais sagrado que não faço mais. Juro de pés junto, pela minhas santa mãezinha que não...
- Sua o quê? Santa mãezinha? Aquela vagabunda que quase morreu na zona de doença venérea virou santa? Essa foi boa...
Ao ouvir tal coisa, Raimundo arregalou desmesuradamente os olhos e pareceu crescer muito acima de seus um metro e sessenta centímetros e aumentar seu corpo magro de músculos puros. Saltou pra cima do homem armado, desarmou-o sem dificuldade alguma e passou a espancá-lo até que o sujeito caiu ao chão. Sentado na barriga do genro do patrão, Raimundo disparava soco atrás de soco em sua cara de citadino cuidadoso, enquanto dizia, ofegante:
- Nunca...que fio da puta argum vai sujá a memora de minha santa mãezinha, seu fio....de uma puta do caraio...nunca.., seu corno manso dos inferno..nunca, fio da puta disgraçado...nunca, tá sabeno?Minha mãe, fio de uma puta, passou mar na rua e as puta socorreram ela...foi só isso, seu língua mardita...
Depois da surra no homem, que nunca mais voltou a ter saúde, Raimundo fugiu pra São Paulo às pressas e a mãe o acompanhou. Sem vergonha feito ela só...