Deu branco
Passei o dia pensando em um tema para escrever uma crônica, finalmente achei um. Liguei o laptop, acionei o Editor de Texto, o popular WORD, e a página em branco surgiu em minha frente. Sorri satisfeito, agora era só iniciar a crônica. “Vamos lá! Digita alguma coisa, uma letra só. Não esqueça que a caminhada de mil metros começa com o primeiro passo. Então? O texto começa com a primeira letra que forma a primeira palavra que vai formar a primeira frase que vai construir o primeiro parágrafo que vai montar o texto. Viu? Não é difícil... Pensando bem, até que é fácil... É questão de construção... Entende? Você vai montando a estrutura aos poucos. De repente, pronto. Está montado o texto. Não é nem questão de inspiração, é de trabalho mesmo. Concentração, perseverança.”
Ah! Ia esquecendo. Esse cara que pensa que está dando as dicas aí em cima, para quem ainda não sabe, é o meu ‘Sub”... Éééé...!!! O meu subconsciente. Sujeitinho impertinente. Basta eu pensar em escrever que o cara se mete. Fica dando palpite em tudo. Agora fica se arvorando de especialista em escrevinhar. Acho melhor escrever “em escrever” ou “descrever”, se não o cara comparece palpitando. Bom, feitas as apresentações... “Espera aí... Como feita as apresentações? Houve somente uma apresentação. Você apresentou-me, mas não apresentou quem está lendo. Que é que houve? Ficou devagar das idéias, foi?
Olha o ‘sub’ aí, gente! Está bom, vou fazer a apresentação: “Leitor ou Leitora, apresento o ‘Sub’... ‘Sub’, apresento a sua excelência, o Senhor Leitor ou a Senhora Leitora.”
Satisfeito, senhor ‘Sub” ? Dá para deixar eu continuar? Obrigado!
Continuando... Vou digitar a primeira palavra que vai formar o primeiro elo da corrente que vai formar a primeira frase. É o início da introdução. É lógico que depois vem o desenvolvimento e a conclusão.
A minha mente está aberta, limpa, pronta para receber as sementes da criação. Desligo-me do mundo exterior. Agora só existem: eu, o laptop, a imaginação e muita disposição para escrever, ou como diria o meu “Sub”: Digitar... Meu camarada... Digitar...
Meus ouvidos captam o som longínquo da televisão transmitindo uma programação qualquer. Pela janela aberta imiscui-se o ronco do motor de um automóvel passando. Alguém dentro da casa muda o canal da televisão. A minha cadela late forte, somente um latido e fica quieta. Provavelmente a campainha vai tocar. Dlim... Dlom... Tocou! Não quero nem saber quem chegou. Preciso elaborar o meu texto.
Retiro todos os sons que importunam a minha concentração. Retorno à minha crônica. Afinal, o WORD está esperando, a página em branco reflete a minha incapacidade de iniciar o texto. A impaciência permeia os byts e os bits do cristal líquido do ‘lap’. Estranhou, senhor(a) Leitor(a)? É que digitar ‘laptop’ é um saco, por isso acho melhor digitar ‘lap’.
Voltando ao texto. Eu ia escrever sobre o quê, mesmo?