O ovo de páscoa em pó!
Acho espetacular a maneira de um pobre menino encarar a vida. Ele é o “Quinzinho”, por ter nome de Joaquim e ser raquítico, mas sempre chamado pelo apelido. Só não gosta quando dizem que “Quinzinho” é também apelido de político ladrão! Ele tem somente nove anos, mas parece ter seis, por isto a sua inteligência se sobressai: “Tão pequenino e tão inteligente!”, dizem os que os que não o conhecem, perplexos com as respostas. Uma família de mãe abandonada com seis filhos para criar, e o mais velho é ele, que com corpo franzino faz duas ou três viagens para entregar a roupa lavada, para terceiros, em sua casa por sua valente mamãe! Um aparelho de TV ainda preto & branco com controle remoto é a diversão; dona Maria quando quer desligar o aparelho, para que às crianças venha almoçar e também para economizar energia, lá da cozinha puxa a extensão da tomada!
O almoço é rico, quase sempre sobras de comida de algumas mansões, e na mesa garrafas de refrigerantes com água fresca. Geladeira só quando “Quinzinho” arrumar um emprego! Aos domingos é legal e alimentam a esperança a cada dia de chegar o dia de cada um ganhar “geladinho” de frutas! Esforço da carinhosa mãe! Na hora do recreio na escola pública, onde almoça, só vai brincar depois de limpar dois pratos da merenda escolar, é prevenido! Tem o costume de ganhar pastéis dormidos na lanchonete da esquina, mas não come um, divide com os irmãos menores, e um reserva para a mulher que mais ama na pobre vida, dona Maria! E assim o “Quinzinho!” honesto vai levando a vida alheio ao conforto, e sem inveja, do que têm os seus xarás políticos!
No início do ano, com seu humor, ao ser perguntado com foi o Natal respondeu: “Foi bom, os outros meninos ganharam presentes da árvore, eu ganhei a árvore”, só não explicou que o presente chegou um pouco atrasado, no dia seis de janeiro! Só veste roupas finas e boas, finas de tão usadas boas de serem jogadas no lixo, mas que sociedade cisma que pobre tem que aproveitar! “Quinzinho” é um cara cem por cento, não é com outros meninos que estão sempre brigando, garante que nunca será como aquele garoto que colocou uma placa no pára-choque da bicicleta, e que vivia mostrando para as meninas da escola: “Quero te atropelar, para ter o prazer de te socorrer”. O menino alegre e conformado dizia: “Não vou atropelar ninguém, meu amor vai chegar quando eu crescer”, os colegas riam e perguntavam: “E você vai crescer?”
Ele e os irmãos, que só bebem leite porque um senhor manda um litro tirado de uma vaca da roça, e em casa vira litro e meio, víram chegar à hora de sonhar! Vem chegando à Páscoa, tempo de passagem, de renascimento, da vida! “Quinzinho” e irmãos sonhavam com chocolates em forma de ovos, nem que fosse do tamanho de ovo de codorna. Gorou! Chegou à páscoa e sua mãe, novamente saindo da rotina das economias do lar, comprou para a data festiva um pacote de achocolatado, desses de um real e pouco! Estes usados nas refeições matinais de outros. Veio o domingo, a missa não foi a cores! Com a igreja cheia de gente fina como iriam assistir a missa ao vivo, com as “finas” roupas que tinham? Assistiram na velha TV em Preto & Branco o bispo falar, do púlpito da igreja decorada com afrescos de ouro: “Hoje é um dia especial de amor, divida a celebração e comemoração com os mais pequeninos, celebremos uma nova vida”. Os vizinhos estavam com os aparelhos TVs desligados. Os irmãos de “Quinzinho” riram quando ele comemorou: “Viva o nosso o ovo de páscoa em pó...”
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Nesta Páscoa compre um ôvo de chocolate a mais!