Encontro com a Árvore

O Encontro com a Árvore

Nas minhas andanças nesta esfera, ocorreu de deparar-me com uma imensa árvore. Que além de bela, tinha uma curiosa maneira de se expressar. Até hoje não sei se vi, ou ouvi. Tenho certeza de que fundiram-se, áudio-visual-gráfico, talvez, mas se houveram palavras recitadas, não recordo a voz. Se os caracteres foram impressos, perdeu-se na memória o tipo das letras. Apenas repasso agora, no jeito dos mortais, as vagas impressões.

“Ora vejam, - disse a árvore ao me ver - que truque admirável dos sentidos, esta impressão mal acabada que, perante uma paisagem contemplada pela primeira vez, julga-se tê-la visto antes, não é? Mas onde? Onde já nos encontramos? Aqui mesmo, numa existência anterior? Num sonho? Oh, desista, todos sentem o mesmo quando me defrontam. E se vieste á cata de informações, digamos, informações providenciais, bem, não posso culpá-lo, afinal, os homens...Além de versos, tenho muito pouco a oferecer. Após uma pequena eternidade prostrada nesse território, tendo apenas a noite para me sombrear, terminei por cultivar o hábito de falsificar em versos os próprios desejos. Mas sim, meu caro, que mais poderia fazer, além desejar?

Eu quero realizar displicente, uma música eterna, cintilante quimera do meu coração. Não obstante dissolvo o ar, espatifo as arestas, julgo restituir ao espaço o engenho do ar.

Pretendo transformar em formidáveis virtudes, mirabolantes versões, as expressões fugidias dos homens. E que nos dias de farta fadiga eles repousem as próprias sombras sob os meus afluentes esguios, minha copa de pequenos rompantes, perspicácias espreguiçando-se feito idéias no interior destes nervos sóbrios.

Procuro falar desse modo, aliviado de ação, atento a uma outra translação, degustando o destino assim como chupar uma bala, sucumbir a cada segundo nos ruídos de um interminável presente, onde acalento amativo os cânticos das coisas aladas.

Quero ser infeccioso ao lhe transmitir emoções, muito apenas porque minha necessidade é um dom de caminhar imóvel e sereno, ativando sua linguagem com meus desejos enfeitados.

Permanecerei implacável na minha humildade de ser gigante trazido como semente que um dia jorrou farto e caloroso a liberdade de ser poético e imperturbável."

Bernard Gontier

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 27/02/2008
Reeditado em 09/11/2013
Código do texto: T877354
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