Os sinais de Deus
Edson Gonçalves Ferreira
Era muito cedo, quando olhei e vi que, na rua, passavam pessoas apressadas, indo para o trabalho. A gente corre, corre e nunca sabe para quê! Deus não foi afobado, fez o mundo em seis dias, está na Bíblia e descansou no sétimo. Eu não descanso nunca. Minha cabeça parece até cuíca de escola-de-samba. Toca sem parar. Li, hoje, no jornal que uma carreta derrubou uma passarela, ali, em Belo Horizonte. Uma senhora jovem tentou sair de casa e foi eletrificada. Que coisa!... A gente nunca entende que “a hora do encontro é também a hora da despedida”. E Deus está sempre nos esperando...
Quando fico triste, lembro-me de que não valho nada, E você também não... Falo por bem e não por mal. Afinal, somos todos apenas terra assoprada e com mania de grandeza. Deus é a minha paixão com que, dia-a-dia, travo uma batalha terrível entre a minha carne e meu espírito. Hoje, me encontrei na rua, hoje, estava num bando de adolescentes sorrindo, felizes como seu o dia de hoje fosse o primeiro dia da criação e, do outro lado, em plena pracinha, num casal de velhinhos passeava, de mãos dadas, como se tivesse apenas quinze anos. Ele está em todos os lugares, não é?
Tem gente que espera ver Deus descer dos céus. Eu não, Ele aparece em cada pessoa que venho ou escuto. Falando nisso, tem gente que não percebe que maltratar os outros é pura covardia. Generosidade é pérola. A gente só tem uma língua que é para falar menos e dois ouvidos, para ouvir mais. Afinal, a gente tem dois ouvidos e muita gente não entende. Um é para o som entrar e outro é para o que for inconveniente sair. Tudo na vida tem que ser filtrado.
Se eu quisesse ser amado por todo mundo, seria megalomaníaco. Nem Jesus foi tão amado assim. Falando nisso, fico arretado quando vejo, numa esquina, um menino usando crack e, do outro lado da praça, uns rapazes enrolando uns pitos. É Jesus agonizando de novo. Se era pito ou maconha, num sei. Meu alucinógeno é a poesia e, quando quero me endoidar demais, lembro-me de Deus. Ele é tão generoso que me faz heróico. Capaz de enfrentar esta vida que não é nada fácil.
Este início de ano é para todo brasileiro um inferno. Só não é para os homens que vestem gravata e ficam lá em cima no Planalto. Você acaba de pagar IPVA, Seguro Obrigatório, Taxa de Licenciamento e, logo, vem o IPTU e, depois, o Imposto de Renda.
Não dá vontade de trabalhar de jeito nenhum. Se você compra chuchu, paga imposto e, assim, quem fala que o ditado “Come chuchu e arrota caviar” serve para mostrar que é metido à besta, mente. Que come chuchu no Brasil, pode arrotar caviar mesmo, porque paga imposto caríssimo em cima desse produto que nasce em qualquer lugar.
Existe muita gente que adora ficção e acha que filme de terror só acontece no cinema. Basta dar uma voltinha pelas ruas e você volta até sem cabelo. Avião sai da pista e mata pessoas. Carro desgovernado derruba passarela. Bandidos arrastam menino pelas ruas da Cidade Maravilhosa. Políticos roubam o povo com um cartão corporativo. _ Mamãe, socorro! Não vou dormir direito. A gente é assaltada até por correspondência. Imaginem os juros dos bancos e dos cartões de crédito. Dignidade é para pobre. Rico paga as contas atrasadas, mas como tem status, todo mundo sorri. Pobre vai para o SPC. E tem gente que ainda quer que eu seja santo?
Morro de inveja dos discípulos de Jesus. Fico pensando em Pedro que, encostou a rede, largou a família e saiu para o mundo, pregando. Se alguém fizer isso hoje, a sociedade apedreja. Por pouco, não lincharam São Francisco que, audacioso, começou a distribuir presentes da loja de seu pai para os pobres. Ele foi humilhado em praça pública, despiu e entregou a roupa de corpo para o seu pai na Terra e, depois, entregou-se ao Pai Celestial. Que raiva que eu sinto de mim, não sou tão grandioso assim, mas sei que Deus também se compadece de mim.
Divinópolis, 26.02.08