Inventário da Geladeira de fim-de-ano
Fim-de-festa. A porta do refrigerador aberto guarda apenas restos de doces, salgados, bebidas e o amargo gosto da saudade. Uma ressaca deixa a cabeça dolorida na falta de saborosos e doces beijos. O sal dos temperos da memória conservam alguns sorrisos, mas não trazem o calor da convivência.
Os momentos agora são mais frios. E, assim como o gelo é menos denso que a água, alguns pensamentos são mais leves que o presente. A escrita alivia, mas não traz o calor de um abraço.
Os retratos não registrariam tanto, pois a alma dos rostos escapam, enquanto o gosto dos alimentos parecem se decompor no estômago depressa.
A fruta do pé, buscada na árvore não poderá ajudar a digerir as lembranças de um coração apaixonado que morre se colocado em baixas termperaturas. Só o fogo poderá derreter o amor em pedra de gelo e tranformá-lo novamente em correnteza.
*Crônica em homenagem a escritora Clevane Pessoa, com quem estou escrevendo "Almas Desnudas".
Entendi a sua dor ao ver a casa cheia de gente, enquanto na alma perdura um grande vazio de uma ausência permanente.