FAUNA: ATITUDE PESSOAL


No prefácio de “O livro de ouro da AMAZÔNIA”, de João Meirelles Filho (Ediouro – 5ª edição), o poeta Thiago de Mello conta: “Estou me lembrando do Coracy, famoso pescador de Barreirinha, no Paraná do Ramos, a quem fui dizer que o peixe-boi era um animal ameaçado de extinção. O caboclo, querido porque só tinha bondades, me disse meio rindo: - Conversa de quem vive na cidade. Só ontem eu arpoei dois!”

Paradoxalmente, no Portal ORM - Organizações Romulo Maiorana de Manaus foi veiculada, em 21 de fevereiro último, a triste notícia da morte de um filhote de peixe-boi que havia sido localizado cinco dias antes no município de Vigia, nordeste do Pará. O filhote doente estava recebendo atendimento no Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves, mas não resistiu aos graves ferimentos nas nadadeiras.

O mamífero é, de fato, uma das 627 espécies que o IBAMA informa correrem risco de desaparecer da nossa fauna.

A lista oficial refere-se  especialmente  aos animais oriundos da Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal e Cerrado.

A propósito da relação também denominada Lista Vermelha divulgada em 2.003, a Revista Época publicou o seguinte demonstrativo:

 

QUADRO RESUMO DAS ESPÉCIES BRASILEIRAS AMEAÇADAS E EXTINTAS

Grupos

Ameaçados 

Extintos
na natureza

Extintos

Mamíferos

69

0

0

Aves

153

2

2

Répteis

20

0

0

Anfíbios

15

0

1

Peixes

165

0

0

Insetos

93

0

3

Invertebrados terrestres

21

0

4

Invertebrados aquáticos

91

0

0

Total

627

02

9

 

Dois métodos são considerados pelos acadêmicos para definir as ameaças, a partir dos critérios internacionais utilizados pela União Mundial para a Natureza (IUCN, em inglês). O primeiro classifica os animais da lista, em três categorias:

1. Criticamente em perigo, quando enfrenta um risco extremamente alto de extinção na natureza, mediante redução do tamanho da população  maior ou igual a 90% durante os últimos 10 anos ou três gerações; ou quando a população é estimada em menos de 50 indivíduos adultos.

2. Em perigo, quando enfrenta um risco alto de extinção na natureza. Ocorre com a redução do tamanho da população  maior ou igual a 70% durante os últimos dez anos ou três gerações; ou população  estimada em menos de 250 indivíduos adultos.

3. Vulnerável, quando enfrenta risco de extinção na natureza, caracterizado por redução do tamanho da população é maior ou igual a 50% durante os últimos 10 anos ou três gerações; ou   população estimada em menos de 10.000 indivíduos adultos.

No segundo método  a classificação se divide em Extinto, Extinto na natureza, Em Perigo Crítico, Vulnerável, Dependente de Conservação e Baixo Risco.

Em biologia, a extinção é determinada pela ausência de descendentes, que coloca fim à raça ou linhagem de uma espécie animal ou vegetal.

Entre os animais considerados extintos estão a arara-azul pequena, que vivia nas ribanceiras do Rio Paraná. Há dois anos foi a vez da ariranha-azul, nativa do Nordeste, ser considerada extinta na natureza depois que o último animal acompanhado pelos técnicos do Ibama desapareceu. Hoje existem 54 exemplares em cativeiro em fase de preparação para devolver à natureza. O processo de re-introdução desenvolvido pelo IBAMA funcionou bem com uma espécie que durante a década de 80 se tornou o símbolo da extinção no Brasil: o Mico-leão-dourado. Esse animal de 60 centímetros, que pesa pouco mais de meio quilo é ainda hoje um dos mais raros primatas do mundo.

De acordo com a Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, a lista da fauna ameaçada é um instrumento de conservação da biodiversidade para o governo brasileiro. Através dela as autoridades podem fomentar a preservação dos habitats e das espécies que neles vivem, via programas de recuperação, criação de novas áreas de conservação, incentivo às pesquisas e outros referenciados na Lei nº 9.605/98, que trata dos crimes ambientais.
O controle, embora ainda precário,  já vem mostrando alguns resultados. Animais como veado-campeiro, jacaré-do-papo-amarelo, jacaré-açú, gato-do-mato, doninha-amazônica, gavião-real e surucucu devem sair da lista. Já espécies como guariba-de- mão-ruiva, macaco-prego, veado-bororó-do-sul, cobra-dormideira- queimada-grande, jararaca, algumas borboletas, besouros e aranhas  passam a integrá-la.
Os responsáveis pelos levantamentos atribuem o aumento do número de espécies ameaçadas a fatores como:
maior conhecimento científico relativo à fauna selvagem no país, compreensão da dinâmica ecológica dos biomas nacionais, inclusão na lista de novos grupos como peixes e invertebrados,  elaboração de listas estaduais e descoberta de novas espécies. Além disso, dizem que a grande diferença da quantidade de espécies divulgadas anteriormente a quantidade de pesquisadores envolvidos. Na primeira lista de 1973 foram dois, na de 1989 foram 20 e na de 2003 foram 200 pesquisadores. Contudo, o principal motivo de extinção das espécies continua sendo a destruição dos habitat pelo homem, como desmatamento, queimadas, caça ilegal e o tráfico. O governo brasileiro está longe de impedir que centenas de espécies sejam dizimadas.

Em todo o mundo, caça e pesca indiscriminadas também ameaçam 37% das aves e 34% dos mamíferos. Algumas espécies, como, por exemplo, os tigres foram tão perseguidos que hoje restam poucos animais livres na natureza. No início do século XX estimava-se que havia cerca de 100.000 desses animais espalhados pela Ásia. Agora são menos de 7 500.

Da América à Ásia, de Norte a Sul, o tráfico ilegal de animais vivos aumenta. O mercado consumidor é formado por colecionadores privados, laboratórios de pesquisa, lojas de animais, zoológicos, circos e até curandeiros da Ásia. É o terceiro maior negócio em contrabando depois de drogas e armas. Os traficantes combinam ingenuidade com desumanidade nos métodos de disfarce da bagagem animal. A maioria dos especialistas em desvendar o tráfico de animais concorda que a melhor estratégia é conscientizar os compradores e não os vendedores, pois este é um negócio extremamente lucrativo.

Todo dia, no mundo inteiro, desaparecem quase trezentas espécies animais e vegetais devido à destruição de seus habitat. No Brasil, uma das exceções é o Projeto Tamar, que mencionamos na matéria sobre Tartarugas. Dedicado à preservação das tartarugas marinhas o projeto se estende por toda a costa brasileira inclusive Fernando de Noronha e Atol das Rocas, dividindo-a em áreas de alimentação, de reprodução e mistas.

Nesta semana a mídia está divulgando ações do Governo Federal na Amazônia Brasileira, no sentido que inibir atos considerados criminosos, tamanho o susto que levou com o aumento recente da área desmatada. Não vamos entrar no mérito dessa medida: não importa se ela é cortina de fumaça sobre o escândalo dos cartões corporativos ou se é mais um golpe eleitoreiro. Sejamos sinceros conosco mesmos! De longe, confortavelmente sentados em nossa poltrona, assistimos a tudo como se fosse um filme de ficção. Ou como diz João Meirelles Filho em seu livro: “A maioria dos moradores da Amazônia, do Brasil e da América do Sul ignora a Amazônia... A maioria das pessoas nunca trata o assunto de si para consigo, entre amigos, em família, na escola ou no trabalho. Para a maior parte, a Amazônia é algo distante, incompreensível, abstrato”.

Pois bem, caros leitores, voltem seus olhos para o mapa que ilustra esta matéria. Ele mostra que – aqui onde vivemos - o nosso cerrado ocupa o segundo lugar em número de animais em extinção no Brasil (65 espécies). Agora atentem para as palavras de João Meirelles Filho, na apresentação do seu “ O livro de ouro da Amazônia”: “Como cidadão do planeta Terra você está convocado a decidir. Não há meio-termo. Ou você é a favor de que se continue a derrubar 1 bilhão de árvores ao ano (como o que sucedeu na Amazônia brasileira na safra 2004/2005), ou você é contra. E para ser contra é preciso agir. Não basta apenas se sentir incomodado em sua poltrona e afirmar: sou contra!”

 

 

Fontes Consultadas:

 

Livros: 1.O livro de ouro da Amazônia, de João Meirelles Filho ( Ediouro – 5ª edição)

2. Amazônia – Volume 10 da Coleção De Olho no Mundo (Abril Multimídia)

http://www.ibama.gov.br/fauna/extincao.htm

http://360graus.terra.com.br/ecologia/default.asp?did=7213&action=geral

http://www.animalshow.hpg.ig.com.br/lista_ibama.htm

http://www.sosterravida.hpg.ig.com.br/extincaoprincipal.html

http://www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/index.cfm

 

 

Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 26/02/2008
Reeditado em 05/05/2015
Código do texto: T876638
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