As Causas do Meu Stress
Eu sempre tive dificuldades em lidar com frustrações. Desde adolescente, tive o mau hábito de, diante de qualquer desafio maior, ou uma dificuldade aparentemente sem solução, tomar calmantes. Minha intenção nunca foi matar-me por overdose, mas não me vinha à mente que uma dose maior poderia causar uma parada cardio-respiratória. Isto então, vem se repetindo ao longo dos anos. Hoje, estou prestes a completar 42 anos e estou em uma busca desesperada por felicidade, alegria, paz e satisfação. Me casei novamente, tenho apenas 1 filho que é perfeito, nasceu cheio de saúde, é muito inteligente, gosta da escola, não me dá problemas maiores, tirando os normais da fase de adolescente (que tantos chamam de “aborrescente”). Meu marido é tudo: um amigo, um pai, alguém que cuida de mim além do que eu mereço. O amor que ele sente por mim realmente é sincero e de forma alguma, um dia, eu poderei retribuir. Nos mudamos para um apartamento muito bom, no centro da cidade, próximo a tudo, reformado. Morávamos em outro, perto do centro da cidade, mas não era de piso frio (o piso desse agora é ardósia verde), era taco, o que me dificultava bastante pois não é fácil manter um taco gasto e velho com aparência de limpo. Aparência não, limpo mesmo! Mas o problema do apartamento era geral: torneiras pingando, descarga do vaso sanitário com problemas, fora as baratas horrendas que apareciam do nada, dos esgotos, e corriam à noite pela pia da cozinha, me deixando de cabelo em pé. Nada do que fizemos deu cabo delas. Eu já não agüentava mais. Algumas vezes, eu venho do trabalho à pé para casa (não é muito longe). De ônibus, eu gasto um pouco mais de 5-6 minutos. Quando o tempo está bom, caminho e venho conversando com Deus e comigo mesma, isso me faz bem. E também passo em frente ao cemitério. Isso me faz pensar e repensar muitas coisas a respeito da vida e da morte.
Há um ano atrás me vi envolvida em uma situação que me desgastou muito, não só emocionalmente como financeiramente. Fisicamente, quase me exauri. Quase não comia, entrei em depressão, tomei muitos remédios em excesso, do tipo Dorflex, Neosaldina, Dramin, o que tivesse à mão. Fiquei muito mal. Foi o tempo no qual me separei do meu marido. Eu disse certo, EU me separei dele e não ele de mim. Estava insatisfeita com alguns aspectos do casamento e após várias tentativas mal sucedidas em conversar sobre o assunto, me iludi. Achei que poderia encontrar o homem perfeito, sendo que este tal homem já era marido de outra mulher, e pai de duas filhas pequenas, lindas. Surtei. Despachei meu marido para a casa da mãe, assumi o tal affair e vivi tão intensamente esse pseudo-amor que adoeci.
Já não vivia para mim ou para a minha casa, ou para o meu filho, que tanto precisava de mim. Vivia apenas em função do outro. O que ele estaria fazendo, onde ele estaria, porque não tinha ligado na hora que disse que ia ligar, porque quando eu ligava ele, na maioria das vezes, não podia conversar abertamente e quando conversava, eu jamais tinha certeza se estava realmente falando a verdade, afinal, se mentia para a esposa, mãe das suas duas filhas, por que não mentiria para mim, já que eu era a 34ª mulher da vida dele...?
Sofri muito. Devido a esse sofrimento, meu organismo entrou em desequilíbrio. Tive, na época, uma crise de stress que me levou à emergência cardíaca, com a pressão em 16/9. Não me tratei. Agora, dois anos depois, ando com dores de cabeça constantes, fora as dores no corpo que me acompanham quase todos os dias. Choro bastante, dia sim, no outro também. Não consigo sentir alegria, felicidade ou satisfação, não porque esteja “sofrendo” mas porque esses sentimentos eu desaprendi. Sinto momentos de alívio, quando vejo um bom filme, quando leio algo que me inspira, quando me inspiro e escrevo algo, quando converso com meu filho, entrando pela madrugada, falando das coisas da vida, quando sinto o abraço carinhoso do meu marido, na cama, na hora de dormir, quando ele me trata com tanto carinho, quando percebo em minha mãe, já tão cansada, ainda uma vitalidade própria e inerente dela, que persiste a despeito de qualquer dificuldade.
Eu invejo essas pessoas. Não sei ser assim. Não sou assim e não posso me obrigar a ser assim. Estive semana passada na minha cardiologista. Minha pressão normal é 9/6. Cheguei lá com ela a 14/8. Deitei e relaxei. Abaixou para 12/8, e segundo ela, ainda estava alta para mim. Estou tomando ¼ de Rivotril quando me sinto pior, ou seja, todos os dias. Quando a coisa aperta mais, tomo 1 inteiro. Não me sinto bem, me sinto como uma pessoa que bebeu, fico trôpega, demoro a entender algumas coisas, meu raciocínio fica lento e tenho medo de acabar falando coisas que normalmente eu não falaria, no efeito do remédio, que relaxa e desinibe.
Antes, cheguei a tomar Rohypnol. Não foi medicado para mim. Foi medicado para a insônia da minha mãe, mas ela me dava metade, toda noite. Era uma pancada. Eu tinha 5 minutos para deitar, senão cairia onde estivesse. Após 8 horas de sono (não descanso, apenas sono) ininterrupto, acordava leve e feliz. Mas tudo é só ilusão, mentira da mente. As coisas não são bem assim...
Acho legal quando as pessoas lêem o que escrevo, ou dizem que são fãs dos meus textos, etc. É um milagre eu ainda conseguir expressar algo, meus sentimentos, em forma de palavras e me fazer entender. Às vezes, eu não me entendo, por mais que tente, não consigo. Me sinto fracassada em ser assim, espírito frágil, alma machucada, doente. Já fiz análise um tempo, mas cheguei à conclusão que eu preciso é me ouvir. O outro me ouvir até ajuda, mas a solução não está nele. Está em mim.
Se eu conseguir entender que minha vida é preciosa, que eu vivo e que cada segundo é importante, a despeito de tudo o que me cerca e me puxa tanto para baixo, a despeito das mensalidades do colégio do meu filho que estão atrasadas (e isso arrasa o meu coração), a despeito das contas as quais algumas não posso pagar, a despeito da geladeira que antes do fim do mês, fica vazia... talvez eu consiga vencer.
Os problemas existem, eu é que não os aceito muito bem. Aliás, não os aceito de forma alguma, eu os abomino. Mas querer que a vida não tenha problemas é viver no país da ilusão, ou seja, isso não existe. Não quero não ter problemas. Quero tê-los, mas lidar com cada um deles de uma forma eficiente e vencer, um por um, não deixando que eles me derrubem, o que tem sido bem fácil.
Este é um desabafo. Talvez, um ato de coragem. Um ato de me desnudar diante de tantas pessoas que vão ler o que estou escrevendo e nem me conhecem. É me deixar julgar, permitindo que cada um pense o que quiser. Não me importo. Minha prioridade é tentar mudar o que eu penso de mim mesma. Minha prioridade é encontrar o ponto onde me perdi e tentar recomeçar. Não é culpa de ninguém, nem minha. Só aconteceu. E sinto a extrema necessidade de pôr um fim nisto tudo, mas não será um fim trágico. Será apenas um fim. Que seja um fim que abra a porta para um novo começo...