Cá entre nós...
 
 
Recebi um e-mail que, entre outras coisas, dizia assim: “... você é uma pessoa com muitos amigos, alegre, falante, mas percebo que se reserva quando o assunto é pessoal...” 
Outro dia, uma amiga confessou que me acha bem resolvida, forte e sem maiores problemas, por isso, sempre recorre a mim quando as coisas não vão bem. Lembro que sorri e disse: “quem não tem problemas?” Ela, então, me olhou meio incrédula...
 
Cá entre nós...  A vida é uma caixinha de surpresas coberta com papel de presente e lacinho de fita. A cada dia a gente desembrulha um presente, retira a fita e abre a caixinha. O conteúdo às vezes é satisfatório, outras tantas decepcionante! A nossa reação diante do conteúdo da caixa, naquele dia, faz as pessoas nos enxergarem desse ou daquele jeito.
 
A nossa imagem no espelho da vida nem sempre é real. Não estou afirmando que representamos uma personagem. Demonstramos o que somos, mas a projeção perante as outras pessoas se multiplica, quer seja para mais ou para menos, em qualidades e/ou defeitos. Há pessoas moldadas para ouvir e opinar, as fortalezas; outras para serem ouvidas e absorver os conselhos, as fragilizadas. A projeção de minha amiga, com certeza, encaixa-me na primeira opção: ouvir e aconselhar. Mas, ela esquece que todo o ser humano tem os seus momentos de fragilidade...
 
Cá entre nós...  É interessante como os problemas dos outros são fáceis de resolver! A gente sempre tem uma saída, um comentário, uma sugestão. E esse 'jeito de querer dar jeito' nos obstáculos alheios, nos torna introspectivos quando o assunto gira em torno de nosso umbigo... É uma forma de se preservar ou, de não incomodar, daí surge o ar incrédulo, como o da minha amiga; daí surgem as projeções equivocadas...
 
Vamos polemizar! A dedicação irrestrita aos amigos é projetada como um ato de bondade, pureza d’alma e solidariedade, entretanto não corresponde a verdade literal. Claro, há um pouco de cada coisa, porém essa dedicação é uma das maneiras de se desligar dos próprios problemas. É à busca de uma tranqüilidade interior, acolhendo as dificuldades e angústias exteriores. Torna-se um preenchimento as nossas carências emocionais.
 
 Cá entre nós... Vamos continuar a polemizar! Cada um tem o seu lado bom e mau. As circunstâncias dão o tom! Se recebermos uma pedrada e afirmarmos que não há ressentimentos, mas, em seguida, a célebre frase ecoa em nossa mente: “darei o troco com luva de pelica”, significa dizer que a mácula será dissipada depois da vingança – palavra forte – entretanto, é a reação pela ação recebida e não tolerada. É a nossa maldade sendo aflorada.
 
Somos seres humanos e todo sentimento negativo ou positivo é natural, embora a gente não assuma, principalmente, na maldade. O inconsciente nos prega peças! E os sinais de alerta chegam rapidamente, para que se possa refletir e analisar se o caminho a seguir é o mais adequado. A mente adoece. O corpo adoece. E a dor da alma é silenciosa, anda a passos de tartaruga, mas traz a insegurança e o conseqüente medo desencadeando a ansiedade.
 
Até que ponto a raiva, o rancor e a maldade são malignos? Entendo que toda negatividade reverte para o nosso organismo. Revidar a pedrada com outra e dizer “que absurdo, eu não sou uma pessoa vingativa, ruim, apenas me defendi”, demonstra que não assumimos as nossas maldades! Extrapolar esses sentimentos gera resultados ruins, como um bumerangue. É preciso observar o termômetro de nossas atitudes e reconhecer que em determinados momentos, agimos com maldade. Seja por meio de um olhar, palavras ou ações.
 
Cá entre nós... Já cansei de ouvir essa frase: “Eu não guardo mágoa de ninguém!” Acredito que a pessoa acha isso, porém não se apercebe que o comportamento foi o inverso da afirmação! É a chamada briga interna entre o querer e poder; o certo e o errado; a bondade e a maldade; e o consciente temor de uma escolha desastrosa.
 
Errar é humano, sim! E nossos erros são tantos, ou quase tantos, quanto os acertos. Mas, cá entre nós, o sentido e a forma de ajudar aos amigos não é fundamental, mas a espontaneidade e sinceridade sempre devem prevalecer.
 
 23.02.2008