Uma Grande Experiência de Vida
Como já escrevi em outra crônica, era o meu primeiro emprego remunerado depois de ter sido aprendiz de sapateiro, de barbeiro e de alfaiate. Rua Saldanha Marinho esquina com a 13 de Maio, bar do Senhor José Augusto Coelho. Um local muito movimentado com café, refeições rápidas e uma grande reserva de bebidas portuguesas, italianas, espanholas e nacionais. Vinhos para todos os gostos e bolsos, além da fidalguia do senhor Coelho e da Dona Elza Querido Coelho. Com os meus doze anos me sentia em casa, dada a bondade com que os dois me tratavam.
Descrever um pouco deles era muito fácil. Dona Elza era a simpatia em pessoa, uma verdadeira mãe para mim. O Senhor Coelho era um português forte como um touro e com um coração maior do que ele. Era muito franco e honesto no tratamento com as pessoas, aberto a todos os diálogos e o seu modo de falar, português como se falava na terra de Camões, cativava a todos.
Só para reforçar o que eu estou escrevendo, vinham umas 15 moças de Louveira, Vinhedo e Valinhos estudar na Escola Normal, de Campinas. Elas somente queriam ser atendidas pelo senhor José Coelho. E ele, com muita alegria, atendia a todas, que queriam lanches das mais variadas coisas com as quais o bar trabalhava. Ele, entre a tarefa de servi-las, perguntava a alguma delas: “E tu, Maria das Graças, como baes nas aulas? Tens tirado notas milhores? Olha que o fim do ano está próximo e tu baes ficar a ver nabios”.
Esse diálogo paternal era o que fazia dele a atração do nosso bar. Um dia o senhor Coelho me contou um pouco da sua vida. Morava ele numa pequena aldeia em Portugal e não via um futuro muito próspero ali. E como todo bom português, se aventurou a vir ao Brasil. Chegou em Santos, depois de muitos dias de viagem. Quando ia desembarcar, o capitão do navio, senhor Alfonso Brandão, o convidou para ficar na tripulação e lhe disse:” Você, durante a viagem, demonstrou valer por dois dos meus homens”. Ele recusou, muito agradecido e foi trabalhar nas docas do Porto de Santos, serviço muito pesado.
Ele, à tarde, chegava na pensão onde estava morando, rachava lenha e ajudava no que fosse preciso. Isso tudo sem remuneração. Então um médico que se hospedava por lá, vendo aquela boa vontade e competência, o convidou a vir trabalhar na Real Sociedade Portuguesa de Beneficência, na época o melhor hospital de Campinas. O senhor Coelho aceitou o trabalho, que não era pouco, e como morava lá, no próprio hospital, à noite, depois de um dia cansativo, achava tempo para ajudar os enfermeiros da casa na lida com os doentes. E adquiriu tamanha prática nessa empreitada que em 2 anos era um dos melhores enfermeiros de Campinas.
Amealhou algum dinheiro e comprou um bar na Rua Barão de Parnaíba. Casou com a Sra Elza Querido, e logo depois do nascimento do filho José Carlos, ele deu um salto mais arrojado e comprou o bar da 13 de maio esquina com Saldanha Marinho, onde fui trabalhar com ele.
E dado o seu grande tino para os negócios, ele transformou aquele bar num dos melhores de Campinas.
Para mim foi uma grande experiência de vida ter convivido com o Senhor Coelho e com a Sra Elza, que foram a minha segunda Família.
Que Deus os proteja onde estiverem.