A INFÂNCIA NA CASA 29 A
A INFÂNCIA NA CASA 29 A
Lembro-me como se fosse hoje...
De nossas intermináveis brigas e brincadeiras.
Da inconseqüente luta de espadas em que o pequeno “Zorro”( eu ) quase fica sem uma vista.
Das bolas de meia, feitas com precisão pelas mãos hábeis do mano Edu.
Da porcelana da vizinha (presente de casamento) que infelizmente se meteu na trajetória de uma de nossas tantas bolas de meia, nos proporcionando momentos de tensão quanto a reação de nossos pais. Dona Elza ficou uma fera.
Da colher de pau que minha avó já nervosa, quebrou na cabeça do Cacinho, após o mesmo ter levado um direto no queixo desferido pelos punhos do Edu. Até hoje não entendi porque no Cacinho e não no Edu...Este fato até hoje gera polêmica quanto a preferência da vó Elza pelos netos.
Da nossa primeira bicicleta, comprada de terceira ou quarta mão, e reformada com carinho pelo nosso habilidoso pai.
Dos soldadinhos de chumbo que espalhávamos no barranco para depois tentarmos derrubá-los com nossas bolinhas de gude.
Dos índios que em nossas brincadeiras eram os heróis e sempre venciam os cowboys.
Do nosso primeiro e único campinho de botão, que causava admiração na molecada da rua.
Feito também pelo nosso “Severino”. O nosso pai “faz tudo”, que ficava feliz em nos ver felizes. O que tinha de severo tinha também de amigo.
Dos botões feitos da casca do coco e também de plásticos queimados dentro das forminhas de empada, técnica que fabricava botões coloridos e diferentes, além de estragar as forminhas de nossa mãe.
Da janela do quarto que nos dava a chance de saltar para o monte de areia, após termos tomado banho, o que nos levou a um castigo diferente dado por nossa mãe. Ficamos pelados na sala o resto do dia, e a cada visita um sufoco para escondermos nossas partes íntimas com os travesseiros, foi uma lição sem precedentes na história da relação entre pais e filhos. Foi uma “vergonha”.
Das noites de bagunça sem limite, quando algum amigo vinha conhecer a casa pela primeira vez. Era imposto ao visitante uma sessão de cosquinhas, com direito a jornal molhado enfiado em sua boca para evitar maiores escândalos que pudessem atrair alguma vizinha intrometida em nossa calorosa recepção de boas-vindas. O primeiro a ser beneficiado por esta calorosa recepção foi meu amigo Ivan, personagem também de várias estórias na minha infância.
Vale também lembrar de nossas divertidas batalhas com os filhos da vizinha, em que a munição usada eram as uvas da parreira que começavam em nossa casa e subiam pelo muro até chegar a casa deles ou vice-versa, não tenho certeza. Essas batalhas geralmente empatavam devido a nossa superioridade numérica, eram três contra dois. Vantagem que perdíamos graças a nossa posição na batalha, eles ficavam uns três metros acima de nós e se protegiam atrás do muro.
Enfim, guardo comigo todas estas lembranças e mais algumas que sempre me farão entrar pelo portão da casa número 29 A.