O Trem

Quem olha as pessoas no trem, tão calmas, quase dormindo em pé, ou conversando sobre coisas banais e as vezes até com os olhos fechados como se estivessem em algum tipo de meditação, nem imagina o que são capazes de fazer.

Finalmente a estação final, hora da baldeação, quando menos se espera lá estão todos de olhos arregalados cheios de medo, como um antílope ao perceber que um leão o espreita. E quando as portas se abrem, lá se vai a manada, sim manada, pois ainda somos mamíferos, ou deveria chamar de população, não importa pois pareciam mesmo uma manada, como se do fato de chegar ao trabalho dependesse suas vidas, não importa o que esteja a sua frente o “antílope sempre fará de tudo para fugir do leão”, mesmo que isso signifique atropelar velhinhas e crianças.

Eles ficam ali parados esperando até que o trem chegue, e quando ele chega lá vai a manada novamente, sem nem ao menos aguardar as pessoas saírem, eis que duas moças entram e um lugar fica vago, elas se entreolham, seria um duelo de velho oeste, talvez, elas se observam entre olham novamente, estudando cada movimento uma da outra, eis que uma resolve sacar a arma ou melhor as nádegas, ela corre em direção ao banco ao perceber a reação a outra sai desesperada na mesma direção, mais a primeira consegue sentar, a que fica de pé mostra através do rosto sua raiva e insatisfação por ter perdido o duela, a moça sentada sorri como se aquele fosse o maior premio ganhado em sua vida. E a população com seu desejo ardente de entrar no trem, não passam agora de sardinhas enlatadas, alguns se esforçam procurando onde segurar, não sei para que, nem ao menos pode se mexer, pelo menos até a estação final onde a manada correndo do leão ou para não perder o emprego, se preferir, entra em ação novamente.

Esse dias ocorreu uma coisa engraçada, estava lá em meio a muvuva, acabava de sair um trem extremamente lotado, esperei até que o próximo viesse, estava chovendo, quando o trem chegou já havia uma população esperando, e a manada entrou em ação novamente, quando entramos no trem e olhamos para os acentos todos ensopados, olhamos uns para os outros e começamos a rir, afinal depois de tanta corrida e tanto esforço ninguém ia sentar.

E assim seguimos dia a dia, “como metamorfoses ambulantes”, passando de pessoas a antílopes, de antílopes a sardinhas em lata, para sermos novamente antílopes. E depois quando chagamos em casa, o que somos? Bicho Preguiça, talves.

Sabrina Ferreira
Enviado por Sabrina Ferreira em 23/02/2008
Reeditado em 22/09/2008
Código do texto: T872360
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