Axé Music
Em plena Quarta-feira de cinzas, findo o Carnaval para aqueles que compreendem a utilidade do superego proposto por Freud e não se rendem às mazelas carnais e decadentes de uma época animadinha onde o ser humano esquece suas obrigações para correrem desesperadamente semi-nus atrás de ônibus gigantescos em pleno sol de 40° seja em qualquer lugar do país, discutia com pessoas que que jamais participariam da orgia mencionada acima - não por falta de vontade, mas por puro recalque - sobre o estrondoso sucesso do Axé Music de Salvador que repercutia em todo o país.
Chegamos então, à personagem-protótipo dessa escola musical que tem colhidos bons frutos nessa área, principalmente nessa época. Eis que surge a figura da Poderosa Ivete e sua festa, seu carro não mais velho, seu amor canibal e sua pequena astronave dando um ar inaproriadamente psicodélico ao contexto ao qual ela pertence.
O comentário na rodinha dos pseudo-intelectuais, dos especialistas em cultura inútil e dos recalcados de Carnaval era o extermínio do Axé Music da face da Terra ou o assassinato - com direito a bilhete suicida - da querida diva brasileira, cujas pernas, by the way, valem a ida a Salvador. Dentre comentários do tipo: "Morte ao Axé" "Anarquia soteropolitana" e outras ofensas impróprias à pessoa pública da querida ex-peguete da Xuxa (oops...) algum fã, nitidamente esmagado e pressionado a falar mal de seu ídolo, tentava de todas as formas amenizar a situação. "Ai, gente, ela nem é tão ruim assim, vai?" Sendo rebatido constantemente pelos líderes revolucionários que preferem apontar o joio a recolher o trigo.
Então, ainda contrariado, mas indisposto a continuar uma discussão. Afinal, gosto não se discute, ne?, o retraído fã diz: "O que ela faz é ruim, mas ela é boa no que faz". Alguns ficaram calados, concordando com os atributos vocais, artísticos e físicos (da cintura pra baixo, claro), mas não senti que aquele argumento realmente fosse válido para qualquer coisa.
Se partirmos do ponto de que a competência gera a crítica positiva, estaríamos então elogiando e admirando o assassino competente? o corrupto competente? o pedófilo competente? Se nossos argumentos direcionam para a maneira como as pessoas agem e ignoram a ação que está sendo feita, acho difícil chegar-se a alguma conclusão que defina realmente um ponto de vista plausível. Não sou politicamente correto, mas também não adoto os ideias dos incorretos. O ser humano é ambíguo mesmo. Mas se é pra fazer o bem, que façamos bem. E se vier o mal, mesmo que de forma bem feita, não esqueçamos do mal. O mal pode ser mascarado, claro. Mas molduras boas não salvam quadros ruins e máscaras de porcelana quebram facilmente.
Quanto à Ivete, não emiti nenhuma opinião. Sabe como é, ne? Opinião é igual a bunda, cada um...