O CACHORRO QUENTE .
Naquele dia tínhamos ficado até um pouco mais tarde no escritório, por conta de um relatório urgente que teríamos que preparar para o dia seguinte. Eu e mais dois colegas, antes de tomar a condução para nossas casas resolvemos parar num trailer e comer um cachorro quente. Como estava faminto, fui o primeiro a pedir.
Queria um cachorro simples, só com mostarda. Tive a sensação de ter dito a maior asneira do ano, pois tanto o vendedor como os colegas me olharam com cara de espanto, como se eu tivesse pedido algo absurdo, inédito e impossível de ser servido.
O vendedor não acreditou e pediu para que eu repetisse meu pedido. Sem vacilar eu repeti que queria um cachorro quente com uma dose caprichada de mostarda. Mas só ? Os três perguntaram, quase ao mesmo tempo. Então entendi o motivo da surpresa.
Não se faz mais cachorro quente como antigamente. Na minha modesta opinião de perito em culinária (rrrrsssss,.....he, he, he,....quiá, quiá, quiá, quiá...) a modernidade conseguiu estragar um dos mais tradicionais e antigos sanduíches que eu conheço. Vejam se não tenho razão.
Um dos colegas pediu um “cachorro completo” e junto com uma tímida salsicha (que naquele sanduíche fazia um papel absolutamente secundário, quer dizer, se não estivesse ali, não faria falta nenhuma...) veio acompanhando milho, batata palha, azeitona picada, ovo de codorna (como é que pode ?), pickles de cebola, alho torrado, bacon, salame picado, molho de tomate com cebola, ervilha, cebolinha, salsinha e outras tralhas que agora não me recordo. O outro colega pediu um sanduíche igual, com poucas tralhas.
Não sei se porque estava cansado ou com fome o fato é me indignei com aquela mistura e em tom de deboche, ironicamente perguntei ao vendedor se ele tinha se esquecido de acrescentar farofa de banana nos outros dois sanduíches.
O moço por trás do balcão não gostou da brincadeira pois além de ter me olhado com um olhar que cuspia fogo, sugeriu que eu colocasse leite condensado no meu sanduíche. Respondi a altura, explicando ao inexperiente sujeito que cachorro quente só tinha que ter ketchup ou mostarda, senão o sanduíche teria que ser batizado com outro nome.
Deveria ter ficado calado. O homem , sem disfarçar a indignação e ofendido, me disse que quem entendia de sanduíches ali era ele e não eu , além do que qualquer cachorro quente que tivesse um mínimo de dignidade tinha que vir muito bem acompanhado, pois os tempos eram outros.
Meus companheiros, devoravam o lanche, deixando escorrer maionese pelas mãos e pingando molho nas respectivas camisas não dando a mínima importância para a discussão. Nesse momento, chegou junto a nós um senhor de seus quase setenta anos, cabelos brancos e que sem nenhuma cerimônia, foi logo pedindo um cachorro quente. O balconista perguntou se era completo, olhando prá mim, claro. E o senhor idoso, experiente, de bom gosto e equilibrado respondeu com toda firmeza : “lógico que eu quero um completo!”
Não sei se sou eu quem está atrasado na evolução dos tempos ou os vendedores ambulantes que criaram muitas novidades, distorcendo certos tipos de comidinhas simples que valem mais pela tradição do que pelo sabor.
Ao lado do trailer tinha um pipoqueiro. Pois bem, esse pipoqueiro para incrementar seu produto oferecia pipoca com bacon, leite condensado e queijo ralado. Amigos, não sou tão velho assim mas sou de um tempo em que um saco de pipocas só tinha pipocas.
O balconista dos sanduíches inventados parecendo adivinhar meu pensamento, sorriu ironicamente e com certo deboche serviu mais cachorros completos para dois adolescentes que, para não se sentirem discriminados e nem inferiorizados, também derramaram maionese nas camisas.
Com essa história de não entender de sanduíches lembrei-me de um fato super engraçado acontecido comigo. Fui com a família certa vez passear num shopping e depois de muito andar paramos na praça de alimentação. Meus filhos queriam lanche do Mc Donalds, minha mulher do Bob's e eu, só para aparecer, fui conhecer o quiosque das comidas mexicanas.
Pedi um sanduíche de carne ou “taco” como eles chamam, se não estou enganado. O vendedor me perguntou se eu queria meu sanduíche frio ou quente e eu, claro, exigi que viesse quente, não, bem quente.
O sanduíche estava realmente muito bonito e parecia bem apetitoso e acompanhado de um copo de coca-cola sentei-me junto com a família. Na primeira mordida e na segunda mastigada perdi o fôlego. Era pimenta pura .
Para o balconista do quiosque mexicano, “bem quente” significava muita, mais muita pimenta mesmo....e daquelas bem bravas e sanguinárias....
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(.....imagem google.....)