A Morte nossa de cada dia

Certa vez alguém me disse – a morte não é o fim de tudo. Essa frase nunca saiu da minha cabeça e na medida em que os anos passam, ela ganho novos contornos de entendimento. Todos os dias morremos um pouco, mas também renascemos. Morremos quando pensamos em nossas vidas vazias, quando nos pegamos projetando um amanhã sem muito futuro. Morremos quando esquecemos nossos sonhos de infância, quando esquecemos a maravilhosa capacidade de regeneração que todos os organismos vivos possuem. Morremos um pouco quando permitimos que uma relação onde se acreditasse- um conto de fadas se transforme em um sentimento atroz. Morremos todos os dias por vários motivos. Porém a questão crucial não é a morte por obra do destino, mas sim o suicídio constante que cometemos no dia-a-dia. Tive uma amiga muito querida cuja morte deu-se a um Câncer de fígado. Os médicos constataram que a doença havia se espalhado rapidamente e não havia mais nada a fazer. Quando penso na história que essa pessoa tão especial teve na minha vida, percebo que o que lhe aconteceu foi um suicídio. Não teve armas, não teve drogas, mas teve tristeza, desilusão, amargura, sintomas que unidos a levaram a potencializar esse Câncer. Foi triste e é mais triste perceber que não estamos muito longe disso. Li um texto cujo título é Suicídio Saudável. O título pode parecer estranho, mas esse autor colocou alguns elementos que me fizeram pensar. Ele propõe uma troca – ao invés de matarmos nossos sonhos, nossas esperanças, nossos amores, nossos desejos talvez fosse mais interessante matarmos todas as coisas que impedem que tenhamos sonhos, realizações, esperanças, alegria, amor e paz. Realmente seria tão mais lógico e sensato matarmos todos os dias esse desamor que nos impede de ser feliz. Algumas pessoas se atolam em dívidas por inúmeras razões e depois pensam na morte como alternativa. Nesses casos deveríamos matar os sentimentos, a impulsividade que nos levam a ficarmos cheios de dívidas e não querermos mais viver. Outras sofrem muito com o final de um relacionamento e também pensa na morte como solução. Nesses dois casos e mais inúmeros outros, a alternativa escolhida é correta – a morte, mas o enfoque deve ser mudado. É natural e necessária a morte de tudo o que não nos serve mais. A impulsividade, a “baixa auto-estima”, o medo, a dor, o sofrimento. Seria maravilhoso se tivéssemos a capacidade de regeneração necessária para uma vida plena e melhor. O suicídio, a morte pode realmente ser uma solução. Alguns podem pensar que não existe amanhã porque sofremos na infância, todas as coisas foram difíceis e pelo menos 100 mil outras razões. Convém lembrar que todas as pessoas possuem histórias de vida muito semelhantes. Não existe um caso sequer de indivíduos que tenha nascido sem o estigma da dor. Todos nós, em menor ou maior grau sofremos sejam por dívidas, por relacionamentos, por medo, por doença. Todos sem exceção. A diferença pode ser apenas na forma como as pessoas lidam com a morte diária. Alguns fazem a opção de matar o melhor de si mesmo e assim transforma-se em indivíduos amargos. Outros decidem lutar e derrotar o pior de si mesmo e esses se tornam vencedores de um mundo constantemente em mutação. A morte não é o fim de tudo, mas pode significar um novo começo quando decidimos nos livrar de tudo que atrapalha nosso crescimento e impede que enxerguemos a aurora de um novo amanhecer.

Fátima Pacheco
Enviado por Fátima Pacheco em 20/02/2008
Código do texto: T867480
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