MEUS VELHOS AMIGOS .

 

 

   Não sou nostálgico e muito menos sentimental. Tenho procurado viver um dia de cada vez, me empenhando com toda firmeza em só olhar para frente e dentro do possível fazendo o grande esforço de não olhar para trás.

   Entretanto, ultimamente venho sentindo um certo tipo de saudade, que acaba me trazendo muita nostalgia. Falo de velhos amigos, os da infância, os da adolescência, os da juventude enfim, os que faz muito tempo, deixei em minha terra natal.

   Nunca mais os ví, nunca mais soube de nenhum deles, muito mais por minha culpa perdi o contato e tenho sentido nestes últimos dias que as lembranças vão tomando formas mais nítidas, mais firmes, mais reais e aí não tem jeito , vem o vazio, vem a saudade.

   Por onde andarão meus velhos amigos, companheiros de farras , brincadeiras, confidências, tristezas e alegrias ? Quantas boas e alegres lembranças (essas, sim!) que não gostaria que o tempo apagasse jamais.

   Como estarão hoje o Hélio Fidélis, o Geraldinho, o Alfredinho, o Valdemar, o Euler, o Paulo Roberto, todos últimos companheiros deixados em minha querida cidade ? Será que eles às vezes também sentem esse tipo vazio, esse tipo de saudade?

   Sei que a vida e o tempo são como se fossem um trem (trem é coisa de mineiro...e eu sou mineiro, uai...) seguindo sempre na mesma direção , mas não seria bom se de vez em quando (mesmo que a cada cinco ou dez anos) esse mesmo trem pudesse voltar até aquelas estações preferidas, estações essas que na verdade seriam as melhores lembranças dos nossos melhores amigos ?

   Lembro-me do tempo que jogava bola na rua (quantas eu aprontei...), sempre escondido da minha mãe. Certa vez, era carnaval, nunca me esqueci, chutei uma bola com tanta força que ela bateu e quebrou a janela de um vizinho muito chato. Ele descobriu quem foi o autor da façanha, furou a bola que nem era minha e foi lá em casa cobrar o prejuízo. Resultado, uma bela surra (só em lembranças uma surra pode ser bela...) e uma semana de castigo.

    E na adolescência quando comecei a frequentar os bailinhos nas casas das meninas ? Hoje acho engraçado. Eram as “horas dançantes” onde na prática tocavam-se músicas do Ray Coniff na rádio-vitrola da sala (o nome era esse mesmo), as meninas ficavam de um lado conversando e os rapazes do outro tomando “cuba-libre” e ninguém se atrevia a ir para o centro da sala para, digamos, dançar aquelas musicas românticas, gravadas numa coisa chamada “long play”. Belos tempos que não voltam mais! Foi nesta época que nossa turma, que frequentava a missa todos os domingos , entrou para o coral da igreja. Que desastre! Como cantávamos mal. Cantávamos, não...guinchávamos...

   Lembro-me do cinema no sábado à noite. Não importava o filme. O que queríamos era esperar que as luzes apagassem para começar a guerra de pipocas no escuro. Era nossa diversão. No final da sessão, passávamos no bar ao lado e engolíamos um copo duplo de caldo de cana com um pote de salada de frutas , gelo picado e groselha. Quando não tinha salada de frutas nós comíamos um pão de queijo murcho e frio, e era uma festa.

   Mas festa mesmo era quando íamos assistir aos jogos do Atlético. Não perdia um jogo e quando meu time perdia eu voltava para casa com a cabeça inchada e ficava de mau humor por uns dias, até o próximo jogo. Quase sempre meu time ganhava e eu não era fanático, era um apaixonado. Quantas lembranças!

  Às vezes penso em colocar um anúncio no jornal sugerindo um encontro num restaurante, numa churrascaria, sei lá (é uma boa idéia ?). Seria um bom momento para matarmos a saudade, rirmos das nossas barrigas e quem sabe do pouco cabelo de alguns. Tenho certeza de que ficaríamos felizes.

   Quase todos os meus antigos amigos já são sessentões e com certeza já são avôs. E que tal se reuníssemos as famílias, com esposas, filhos e netos ? Comparar velhas fotos, repetir velhas gírias, relembrar antigas piadas e dos apelidos engraçados e ridículos . Como seria bom! Mas onde eles estarão ? Como reencontrá-los ? Será que ainda se lembram de mim ? Será que sentem saudade ?

   Como disse antes, não sou sentimental. Mas deveria ser só um pouquinho...só um pouquinho, pois assim, quando sentisse saudade e ninguém estivesse olhando, deixaria escorrer uma ou outra lágrima pelo rosto. Me faria bem, com certeza !

   Em seguida me olharia num espelho, lavaria o rosto para disfarçar o vermelho dos olhos e diria para mim mesmo: “É amigo, como o tempo passa....”

 

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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 20/02/2008
Reeditado em 07/01/2013
Código do texto: T867367
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