UM RAPAZ POLITIZADO!

Velhas manias... Juntar papéis velhos! Até que um dia, juntamos nossas forças para jogar tudo fora! Foi o que fiz hoje. Coloquei minha eterna fantasia de “secretária do lar”, logo após retornar de minhas atividades de voluntariado – a que me dedico, duas vezes por semana -  e lá fui eu, pegar no batente! Após três horas de limpeza geral, conferir tudo para não correr o risco de descartar documentos importantes , o resultado foram três sacolas plásticas repletas de inutilidades. Ainda vou descobrir quem não faz isso...O próximo passo, foi tomar uma chuveirada, da cabeça aos pés, pois os suores judiavam – sou alérgica a tudo que se acumula, sem utilidade: papéis, poeira...”trash”, enfim. Dizem que alergia é doença de rico! Pelo menos isso de rico eu tenho! Em seguida, peguei as sacolas para levar o lixo reciclável que nós, os moradores, doamos para uma ONG de reciclagem, que cuida do pessoal de rua. É, eu reciclo, há tempos, antes mesmo de ser moda. A natureza agradece e me retribui! Depois de deixar o lixo no local adequado, na Portaria do Edifício, o Porteiro que fica à tarde, Severino, um rapaz nordestino  -que novidade! - em todos os Edifícios de São Paulo e, talvez do Brasil todo, há um ou mais Nordestinos, trabalhando! Eita, gente forte, trabalhadora, topa qualquer parada e, ainda assim, aqui no Sudeste – e no restante do País – eles são discriminados. Ele me parou para dar um dedinho de prosa e disse: Dona Emilia, a Sra. Ta sabêno da renúncia do Fidel Castro? – Sério!? Respondi. Ainda não vi TV hoje, não estou sabendo...Mas, então – continuei -  o homem forte de Cuba renunciou?! Ué, eu pensei que isso só fosse acontecer com sua morte! Mas, de qualquer maneira, ele já “estava renunciado” há mais de um ano, desde que ficou doente... – É, Dona Emilia, mas agora ele renunciou mesmo, as pulitica, acabei de escutá na Radio CBN, e o irmão dele, o Raul Castro, vai continuar    governâno Cuba!  

-  Fica tudo em família, não é mesmo? Retruquei! Então, aquele rapaz, vindo lá do interior do Nordeste, onde a educação passa distante, os meios de sobrevivência são escassos, quase nada, olhou-me, eu já me virando para tomar o elevador, sempre apressada, e disse:  - Dona Emilia, sabe o que acho? Eles diz que em Cuba só tem Ditadura, que o Fidel é mandão, ruim para o povo, mas eu não acho, viu? Eu gostaria de viver lá... Interessei-me em saber o porquê e arrisquei uma pergunta: - Severino, por quê você acha isso? – Ah! Veja bem a sinhora: aqui no Brasil, o pobre morre na fila dos Hospital Público e Escola é só prá rico  mêmo.  Pobre num tem vêiz!

E lá em Cuba não! Lá o povo tem Assistência médica de primêra, tem Escola até a Universidade de graça, muita mordomia, e o povo ainda foge de lá pros Estados Unidos, aquela gente fominha    que só pensa   em    levá vantage... A senhora qué sabê de uma coisa!? Eu acho que o Fidel tem razão em deixá o povo meio nas rédia curta... Porque, veja o nosso exempro. Aqui, diz que é Democracia, o povo faz o que qué, mas lá em Brasília eles também faiz o que qué  rouba dimais e o povo aceita, caladinho. Nóis vota sempre nos mesmo cara, num sabêmo votá e num vâmo aprendê, purqê num tem candidato, coisa ninhuma...    Vô falá pra sinhora,  Dona Emilia, o Fidel tá mais é certo. Quando o povo fica livre pra fazê  o que qué... só faz CAGADA! A sinhora mi discurpe a má palavra, mais é a verdade verdadeira!

Depois dessa aula de politização que aquele rapaz, vindo lá  dos confins do Nordeste, sem nenhuma instrução, mal sabendo escrever o próprio nome, demonstrou, eu passei a mão em mim e dei meia volta! Fiquei refletindo... e é esse o povo lá do Nordeste, que aqui no sudeste e no resto do Brasil, chamamos de “Baianos”, como se não tivessem pátria, como se não pertencessem a este país. Estes sim, são os verdadeiros brasileiros!

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