Seu Mesquita e sua cachorrada!
A minha bela cadela, em um belo domingo encontrou a porta da rua aberta, não pensem que ela fugiu. Ao contrário, puxando a vocação de um "avô" mandou entrar todos os seus colegas de rua; com bandolins, cavaquinhos, atabaques e pandeiros, um verdadeiro carnauauau! As mesas e cadeiras dispostas no quintal e os cascos vazios já esperavam o caminhão da cervejaria para o recolhimento. Os gols já estavam suficientemente comemorados, a televisão desligada, a equipe do Galvão Bueno já havia se recolhido, mas os ossos e as pelancas, sobras da feijoada, ainda não haviam sido varridos. E nós que pensávamos que éramos os únicos donos da casa, vimos que nossa Mandala é quem dava as ordens naquela hora, para a sua alegre cachorrada, que naquela fim de tarde pareciam que ouviam de mim, “um entre por favor”
Eu não quis estragar aquele weekend canino, afinal um dia eu ouvi de um importante ministro que “cachorro também é gente”. Minha carrocinha furou o pneu, e aqueles humanos animais puderam ter naquele dia uma imagem diferenciada do mundo cão em que vivem; fazendo xixi nos postes, correndo do homem do canil da prefeitura, tomando banho até de mijo humano, e sendo violentado nas ruas pelos próprios companheiros! Naquela tarde a fartura era tanta que só pensavam em comer os fartos pedaços de carne deixado pela raça nobre de pagodeiros. Eu pensei em que tempo achei tanta graça de tantos cachorros juntos? De raça ou sem, meninos ou meninas, sem que cheirassem o bumbum um do outro. Nem que eu fosse dono de um “dog-hotel” não riria tanto com meus hóspedes. Tirei uma soneca e comecei a sonhar.
Quando acordei já era hora. Contra a vontade ou não, Mandala já deixava de dominar o território, voltava para a sua coleira enquanto seus colegas, de casas vizinhas ou rua, foram convidados a uivar nos seus lugares de costume. Fiz cara de mau! Mas até que tinha dó em ver uma procissão canina seguindo para a porta da rua, serventia da casa! Lançavam-me olhares como a pedir que os deixassem, pelo menos pernoitar. “Quem vai limpar o coco pela manhã de segunda?”, perguntei-lhes. A resposta veio rápida, dos lábios de minha adjunta doméstica, que também aproveitou e até tirou fotos daquele convescote animal! “Eles podem dormir no quintal. Amanhã pela manhã eu limpo” Foi o bastante, os convidei a retornar e os desejei bom sono! Novamente, alegre, pois nenhum reclamou do tempero, também fui sonhar.
Sonhei com um fato real, que quando eu era criança presenciei e ri muito. Morávamos em Nilópolis, Estado Rio, em uma grande casa na Rua Augusto Paris número 1837, na época importante artéria. Não distante, na quadra de um clube na Avenida Mirandela, a principal da cidade, acontecia uma reunião para fundação de uma associação de casas populares, uma das primeiras cooperativas do gênero no Brasil, transcorria a segunda década dos anos cinqüenta. Meu padrinho e pai por afetuosidade, Flávio Cláudio de Mesquita, era guarda-livros, o que hoje corresponde à contabilista. Presidia a reunião, e gostava de ser acompanhado por seus cachorros. Alguns animais eu me lembro o nome; Rex, Bolinha, Sultão, Frida, Flocos, e outros. Pelos nomes notam que eram vira-latas de raças distintas, recolhidos nas ruas eram convidados a habitar no mesmo extenso terreno.
Bem relacionados com o dono os cães e cadelas seguiam aquele respeitoso senhor de cabelos brancos, como fies companheiros! A reunião transcorria normal, uma extensa mesa com Papai Mesquita ao centro, uma dúzia de diretores umas três dezenas de interessados, e só faltava Anacleto, que antes havia parou no bar da esquina para "calibrar! Tomou algumas doses duplas. Já no meio da reunião, usando de apoio às cadeiras, o retardatário mirou e viu a dúzia de cães repousados sob a mesa, e lascou: “Seu Mesquita e sua cachorrada!”, Se era mal interpretado por suas constantes bebedeiras, Anacleto ficou de olho roxo e sem saber até a data de sua morte o que aconteceu. A “cachorrada” do Seu Mesquita não gostou nada da infeliz alusão!