O INESPERADO
"Estacionamento proibido" é o que determina a placa de trânsito na sua imponência, eternamente vigilante do alto do poste da companhia de eletricidade. Não ligo a mínima! Tanto é que estaciono meu carro bem debaixo dela. Desço do carro, fecho a porta com raiva, saio correndo alucinado pela calçada sem ao menos ter me preocupado em trancar com chave a porta do carro. Tenho pressa pois uma intermitente garôa insiste em molhar todo mundo.
Abro a porta da entrada do predio e, antes mesmo que o porteiro pergunte aonde vou, já estou no elevador que demora aparentemente um século o seu trajeto de apenas alguns segundos. Estou totalmente descontrolado.
Expremo o dedo com violência sobre o botão da campainha que, do outro lado, deve acordar até os pregos a muito tempo adormecidos por trás das molduras dos quadros que enfeitam a sala.
Finalmente! A porta se abre lentamente, por onde vejo um angelical e sonolento rosto que, para minha decepção, não era de quem esperava encontrar.
Atrapalhado com o inesperado, tentei com gaguejos e gestos explicar que na pressa, talvez, tenha me enganado de andar. Tamanho embaraço acompanhado do deplorável estado em que me encontrava, causou nela um acesso de riso que me contagiou e também ri com gosto.
Ela me convidou para entrar e esclarecer minha dúvida. Se mudara para este apartamento na noite anterior, vinha do interior por uma bolsa de estudo e fora convidada pela prima Rxzwtmng(dona do apartamento) a morar com ela. Ao mencionar o nome da prima, me lembrei do motivo de minha tão espavorida e matinal visita. Indaguei sobre a prima e me disse que tivera que viajar de forma inesperada e que ficaria fora da cidade por algumas semanas. Expliquei que sua prima e eu eramos íntimos, tão íntimos que se tornou importante demais para mim e que sem mais nem porque, na véspera me liga pedindo que não a procurasse mais. Após uma interminável noite de insônia decidi que, assim que amanhecesse, viria até aqui e pediria as explicações cabíveis para essa aloprada atitude dela. E o que encontro? Uma jovem interiorana que me diz que minha amada se fôra não se sabe para onde, com quem, para quê ou ao menos quando volta.
Ela ouviu em silêncio meu desabafo. Me encarou com seus grandes olhos negros e um meio sorriso nos lábios. Após alguns segundos do mais absoluto silêncio ela começou a falar muito devagar, como quem não acredita naquilo que estava dizendo. Disse que as pessoas algumas vezes precisavam afastar-se de tudo e de todos assim sem mais nem menos(pelo menos na familia dela existiam alguns casos semelhantes), sem explicar nada. Tal vez para encontrar-se a sí mesmo, para certificar-se se estava no caminho reto. Sugeriu que tivesse paciência e soubesse esperar que em pouco tempo tudo se esclareceria.
Saí do apartamento frustrado e com profunda indignação...
Os dias se passaram(semanas, meses...), dela, nem sinais. Vez por outra eu telefonava para a prima interiorana. Em outras ocasiões era ela que me ligava(em horários poucos convencionais). Dois anos! Dois longos anos! E eu a espera de um espectro, de um ser fantasmagórico que povoa minha mente de indagações... A prima está de casamento marcado ... Meus amigos me chamam de Zumbi de Sampa ... Algumas garotas suspiram quando passo(será de piedade ou...). Ontem tomei um porre...Qué ressaca! Nunca mais...promessa. Boa Noite! e até manhã...