MINHA GATA PRETA

Pietra, minha pequena gata preta, de intensos olhos verdes cristalinos.

Impossível é segurar uma lágrima quando me lembro da primeira vez que a vi. Atravessava uma rua movimentada, mancando, com a patinha esquerda levantada, esmagada. Tão pequenina...

Indefesa, escondeu-se debaixo de um carro quando percebeu que eu queria pegá-la. Fiquei de quatro no chão, enfiei meu braço por baixo do carro e a puxei pela cabeça. Eu tinha uma moto na época. Estava frio. Enrolei-a em minha blusa e fiquei segurando-a com a mão esquerda. Com a direita eu ia pilotando. Sorte ser uma Biz. Eu não precisava usar a mão esquerda.

Chegando em casa, percebi o tamanho do estrago em seu braço. Estava em carne viva. Mesmo assim, por ser um filhote, começou a brincar.

Durante semanas tratamos seu bracinho. Até hoje, cinco anos depois, ela manca com a patinha toda torta, que perdeu a firmeza para se apoiar no chão.

Na época em que a encontrei, eu estava passando por uma fase depressiva. Eu não via muito sentido na vida. Aos poucos, brincando com a minha gatinha, vi-me rindo mais que o normal. E rir fez com que eu aprendesse a aceitar melhor a vida como ela é.

Minha Pietra se apegou a mim de tal forma, que basta um olhar para nos comunicarmos. Eu sempre sei o que ela quer. E quando seus desejos são atendidos, me agradece com um terno e carinhoso ronronar.

Vendo-a dormir tranqüilamente, penso: "ela nunca vai saber o quanto a amo..."

Gosto tanto dela, que sempre me lembro que, um dia, ela vai morrer.

Acho que não sei amar.

Sei apenas temer perder...