SOU SINCERO

SOU SINCERO

Honestidade é moeda rara nos dias de hoje, sinceridade então, mais difícil ainda, em um mundo em que os comportamentos são ditados pela política e pelo interesse. Usamos máscaras, mentimos e dissimulamos para conseguir um emprego, conquistar alguém e até para agradar amigos e conhecidos. Nunca ficou claro para mim, quando exatamente, passamos a ser assim; mas observando meu sobrinho Vitor, começo a perceber que perdemos a vergonha em algum lugar entre a infância e a pressa de nos tornarmos adultos.

Meu sobrinho é, digamos, sincero. Como aquela personagem do Luis Fernando Guimarães, ele fala o que lhe vem a cabeça e constantemente deixa muita gente em saia justa, com as suas frases honestas e a suas declarações sinceras, expressadas baseado em seus sentimentos e não nas opiniões alheias.

Recentemente ele completou nove anos e em sua festa de aniversário, para a surpresa de todos, ele começou o ritual do primeiro pedaço de uma maneira original. Ao invés de entregar os primeiros pedaços para as pessoas mais importantes da sua vida (para o choque dos pais, essas pessoas eram respectivamente, a avó e o tio/padrinho), ele começou oferecendo o bolo para as mais chatas, o que fez com que pela primeira vez numa festa de aniversários, ninguém desejasse ser o primeiro a comer o bolo.

Difícil prometer algo para o Vitor. Sabe aquelas promessas furadas que os tios fazem do tipo: “qualquer dia desses, levo você até o cinema?” Esqueça! Antes que você saia pela tangente, ele te pergunta: Quando? E se você disser uma data, não se preocupe em marcar na agenda, um dia antes do “evento”, você receberá um telefonema do Vitor te lembrando.

Acostumado a promessas por educação que nunca serão cumpridas ( típica de brasileiro: um dia passo na sua casa; vamos combinar um almoço qualquer dia, etc), sempre penso duas vezes antes de prometer algo ao garoto, o que me faz lembrar, o quanto agimos no automático com promessas de visitas aos amigos que nunca ocorrerão; de telefonemas aos parentes que nunca se realizarão.

O gosto pela sinceridade é algo que realmente perdemos ao longo da jornada para nos tornarmos adultos. Na maioria das vezes, não somos sinceros com quem gostamos, e em muitos casos, isso ocorre, justamente por não querermos magoá-los. Ao nos tornarmos adultos, aprendemos que certas verdades podem destruir relacionamentos e por medo de perdermos uma amizade, acabamos engolindo muitos “não” que precisavam ser ditos no momento certo; e acabamos deixando de dizer o que pensamos e essa verdade não dita acaba virando uma bola de neve que transforma grandes amizades em relacionamentos distantes, se não perdidos.

Gostaria muito de agir como o Vitor, não sei se vou conseguir, mas vou tentar a partir de agora, ao menos parar de prometer aos meus amigos e parentes, visitas ou encontros que sei que nunca ocorrerão; e vou tentar ser sincero ao menos para reconhecer que não é que não tenho tempo de revê-los, é que não quero mesmo

Frank

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