Caixa vazia
Águida Hettwer
Dona Marta!
Estamos prontos, podemos ir?
-Ah sim, claro meu filho!
Deixe-me ajuda-la, segure-se em meu ombro, cuidado com os degraus das escadas.
-Pode deixar! Terei atenção redobrada.
A ultima vez que fui desatenta, herdei alguns pinos no joelho, pode deixar, tomarei cuidado.
-Melhor assim!
Como é mesmo seu nome meu filho?
-Josué, ao seu dispor, Dona Marta!
Então podemos seguir viagem!
-Sabe meu filho...
Fiquei viúva a mais de vinte anos, Teobaldo nos deixou ainda moço. Momentos difíceis nós passamos. Hoje percebo que perdi muito tempo, em meu casulo que eu própria construí.
Ao longo dos anos, fui acumulando caixas, onde deixei lacradas emoções vazias, sonhos que deixei morrerem empoeirados pelo tempo. Sensações e arrepios na alma, metrificados, esperanças mortas no breu da escuridão. Solidão por mim imposta, escassez de tempo para gozar da vida os prazeres simples. Resta-me a companhia dos pensamentos, onde retratam com fidelidade cenas do cotidiano.
Família reunida ao redor da mesa de jantar, toalha bordada, renda branquinha, longas conversas, risos, saboreados com saudosismo. Em cada plissar em minha face revela, perdas que o tempo obteve sabedoria em sanar. Quando a saudade aperta-me o peito, minh´ alma mescla-se ao sibilar do vento, em triste melodia. Os filhos crescidos, pelo mundo perdidos, cada um com suas vidas. O caçula sempre me deu mais trabalho, arrumou uma namorada Roqueira com cabelos mechados de azul, estranhos hábitos têm os dois, mas como diz o ditado, “criamos os filhos para o mundo”, os tempos são outros, tudo evoluiu depressa demais. Meu filho primogênito tem traços físicos do Pai, mas de personalidade reservado, muito estudioso e nunca se casou. Não por falta de pretendentes a esposas, mas sempre foi muito tímido.
Em muitos momentos de solidão, me questionei, abrindo o baú de recordações, vislumbrando dois caminhos a minha frente, onde obtive o privilégio de Recomeçar, esvaziei minhas caixas de emoções, levando na bagagem apenas esperança.
Libertando-me do casulo do Conformismo e deixando aflorar a Ousadia que carrego no olhar.
-Faz muito bem, Dona Marta!
Chegamos.
Obrigada meu filho! Fique com Deus...
Até a próxima!
15.02.2008