RINGO STARR
MR. RICHARD STARKEY
Nelson Marzullo Tangerini
O Sr. Richard Starkey, mais conhecido como Ringo Starr é um sujeito de sorte. Veio de uma família paupérrima; seu pai se mandou; teve sérios problemas de saúde; foi garçon; era baterista de uma quase desconhecida banda liverpoldiana e acabou, a convite de John Lennon, Paul McCartney e George Harrison, em Hamburgo, Alemanha, sendo o eterno baterista dos Beatles.
O bonitão Pete Best, que pouco se interessava pela banda, foi dispensado pela turminha de Liverpool e George, por isto, acabou ganhando, de um fã, um certeiro soco na cara.
A canção Living in the material world [Vivendo no mundo material] - coisas do espiritualizado Sr. Harrison! -, do lp do mesmo nome, fala de quando os três arrebanharam Ringo num “tour”.
Fã confesso dos “fab four”, já escrevi uma crônica sobre John e outra sobre Paul. Escrevo agora sobre Ringo, o senhor dos anéis. E, depois, vindo a inspiração [Hare Krishna!], escreverei sobre o místico guitarrista e cantor e compositor George Harrison.
Minha falecida mãe, D. Dinah, e eu sempre fomos fãs declarados do baixista canhoto, incontestavelmente o mais talentoso dos quatro. E é possível que a crônica sobre o Sir James Paul McCartney, o que dizia que podia cantar mais negro dos que os negros, tenha saído mais bonita, mais melodiosa, como aquelas baladas adocicadas de Paul. Mil perdões!
Mas... prossigo falando sobre Ringo...
Contou-me o amigo e parceiro musical Adalberto Barboza que, numa entrevista para uma tv inglesa, o baterista John Bohan, do Led Zeppelin, tentou ridicularizar o narigudo Ringo.
Perguntou-lhe o entrevistador, em dado momento, quando o assunto era bateristas:
- O que você acha de Ringo Starr?
E Bohan respondeu-lhe secamente - e com deboche:
- É um baterista medíocre.
Dias depois, no mesmo programa, Ringo é entrevistado.
Falam sobre bateristas e o entrevistador lhe diz:
- Há dias, o baterista John Bohan foi entrevistado em nosso programa. Perguntei-lhe o que achava do senhor e ele disse que o senhor era uma baterista medíocre. O que o senhor acha de Bohan.
Diplomaticamente, o sempre modesto, elegante e ponderado Sr. Starkey responde-lhe:
- Acho Bohan um grande baterista. Talvez um dos melhores. Com uma diferença: eu fui o baterista dos Beatles.
Quando Lennon foi assassinado por aquele louco [ou agente da CIA ] – seu nome não merece entrar nesta crônica – e cabe à história enterrar os medíocres -, Ringo foi o único Beatle a largar tudo – estava em Viena, Áustria – e viajar imediatamente para Nova Iorque para consolar Yoko Ono.
E quando George faleceu, depois de uma longa luta contra um câncer de pulmão, o romântico e saudosista Ringo Starr escreveu-lhe uma bela canção chamada Never without you [Nunca sem você], que traduzo aqui sem grandes pretensões:
“Fomos jovens, foi divertido / e não podíamos perder / o tempo era exato, na noite / Fomos manchetes de jornais / Limosines e brilhos de refletores / Éramos irmãos pra tudo / E sua canção continuará tocando sem você / Cada parte de você foi na sua canção / Agora teremos de tocar pra frente, sem você / Com você dentro de nós, sem você / Aqui vem o sol é sobre você / aqui hoje não sozinho, com minhas recordações / A vida é estranha, como as coisas mudam, é a realidade / Você tocou uma bela canção que continua ecoando em mim / Eu posso sentir que você /está a meu lado / E sua canção sempre continuará tocando sem você / E este mundo não se esquecerá de você / Cada parte de você foi em sua canção / Agora teremos de tocar pra frente / Nunca sem você / Aqui vem o sol é sobre você / Eu sei que todas as coisas devem passar e só o amor há de ficar / Eu sempre amarei as recordações de mim e você. Tenho-as já / E sua canção continuará tocando sem você / E este mundo não se esquecerá de você / Cada parte de você foi em sua canção / Agora teremos de tocar pra frente / Nunca sem você / Com você dentro de nós, sem você / Nunca estaremos sem você / Com você dentro de nós, sem você/ ... / eu penso que o amor está com você”.
A simplicidade do Sr. Richard Starkey continua cativando o coração dos fãs dos Beatles e daqueles que ainda acreditam na paz e no amor no mundo. Ele próprio nunca se achou um grande baterista. Nós também. Mas aprendemos a amá-lo.
Nelson Marzullo Tangerini, 52 anos, é escritor, jornalista, fotógrafo, compositor, poeta e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba, onde ocupa a Cadeira 073 Nestor Tangerini.
n.tangerini@uol.com.br / tangerini@oi.com.br