LADROES DE MOTEIS

LADRÕES DE TOALHAS

Os efebos quarentões, com suas proeminentes barrigas, ficaram um tanto sem graça a minha entrada no vestiário da sauna. Após leve constrangimento, passaram a falar sobre pequenos furtos, não sei se prosseguindo ou dissimulando a conversa interrompida...

Tenho muitos souvenirs de motéis, gabavam-se, um mais que o outro...

Um narrava que possuía mais de cem sabonetinhos em sua casa, além de cinzeiros, vasinhos de cabeceira, escovas de dente, touquinhas... Devia possuir até preservativos com identificação do motel...

Mas eram coisas da juventude, lembrou-se com saudade... Agora não freqüenta mais motéis...

A mulher não gosta e com outras mulheres, nem pensar... Motivos vários... Ia dar briga em casa... Está difícil arrumar jovens enamoradas e acessíveis... A idade já não ajuda e principalmente a falta de grana e o risco da brochada...

Não necessariamente nesta ordem, os motivos...

Os souvenirs ainda poderiam lhe causar problemas... Já pensou, ele gerente da agência bancária da cidade ser apanhado com uma garota na saída do motel... E o pior, com uma toalha do estabelecimento... Que vexame!!!...

Acho que apenas eu prestava atenção nos monólogos simultâneos, pois falavam ao mesmo tempo, sem dar a mínima às peripécias do outro...

O segundo garanhão, mais para cinqüentão, dizia ter ficado oito anos descasado e sempre freqüentando motéis, com garotas diferentes...Enchera-se de souvenirs... Até cobertor levara...

Pena sua atual mulher o tenha feito jogar tudo fora.... Até alguns talheres e uma xícara de chá...

Que insensibilidade!!!

Quanto desperdício de lindos souvenirs...

Fiquei em dúvida, se os dois iam aos motéis tomar canja de galinhas ou furtar souvenirs... Indiretamente, além dos furtos, comparavam-se subliminarmente, quem era o mais garanhão...

Minha presença deve tê-los inibido a relatar as façanhas nos motéis, além dos furtos ou , de fato, o mais importante eram os souvenirs...

Eram mesmo...

Vangloriando-se, um deles contou o furto de talheres de avião e de um cinzeiro de um hotel em Nova York...

Pobres mulheres, suas companheiras nas visitas furtivas aos motéis... Correram o risco de uma cumplicidade em furtos... Dá até dois anos de detenção... Que risco , hein mulheres...

E o pior, eram apenas as coadjuvantes, jamais as atrizes principais dos amantes eventuais...

Os dois acabaram de vestir suas roupas, desconfiados das façanhas alheias...

Percebi que os incomodava, mas se saísse antes não saberia o final da história...

Nem você , leitor...

Brasileiro é assim mesmo, concordaram... Tem sempre de levar algo...

Refleti que o brasileiro leva mesmo é “ferro”, numa analogia aos motéis, mas deixemos esta conversa para lá, pois não quero realimentar meu ódio aos meus avós imigrantes italianos, ao fato de haver nascido nesta terra de Cabral...

Sorrateiros, pedindo-me cumplicidade com o olhar, enfiaram cada qual uma toalha da sauna, com símbolo do clube na maleta e saíram do vestiário, vitoriosos...

Chorem, mulheres...

O tesão dos dois sempre foram os souvenirs...

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 14/02/2008
Código do texto: T859126
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